Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Entre Uma Coisa e Outra

Alessandra Pauletti, artista visual. Nasceu em São Paulo e reside, desde a infância, em Nova Pádua. Em seu trabalho explora o universo das narrativas mitológicas. 

Madeleine Ferrarini, psicóloga, florense. Idealizadora e coordenadora do Instituto Flávio Luis Ferrarini.

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“A psicologia vai ao cinema”

O poder da imagem que se registra de forma real ou imaginaria em nosso inconsciente ou subconsciente sempre me fascinou

"Meus amigos, dirijo-me a todos vocês como realmente são: feiticeiros, sereias, viajantes, aventureiros, mágicos…venham sonhar comigo".

Essa célebre frase de Georges Méliès deu início ao cinema de ficção. Antes de Méliès o cinema era documental, isto é, apenas eram filmados fatos reais do cotidiano, como a histórica cena dos irmãos Lumière: “A chegada do trem na estação”, em que os espectadores entraram em pânico, chegando ao ponto de saírem correndo da sala de projeção, temendo serem atropelados pela locomotiva do filme. 
Desde o início da civilização, o ser humano buscou as cavernas escuras para desenhar, esses desenhos realçados por uma tênue luminosidade davam uma sensação de movimento. Esses pintores certamente já tinham a alma de cineastas e iam às cavernas para fazer e assistir a sessões de cinema.
Assim como o sonho, o cinema é a “outra cena”. Costuma-se dizer que o sonho, às vezes, é tão real que parece um filme, uma impressão da realidade, outra cena que não dirigimos. Sonho e cinema são uma “outra cena” em que se pode “entrar e sair”, em que podemos nos projetar e nos identificar com segurança, ao mesmo tempo é algo próximo e diferente de nós mesmos e de nosso cotidiano. Isso possibilita um alívio do eu sobre o outro. O outro sou eu, e ao mesmo tempo é aquilo que quero expulsar de mim.
O filme é onde se pode olhar sem ser olhado, não é à toa que normalmente os atores são proibidos de olhar para a câmera, quando, porventura, isto acontece há uma “vertigem da imagem”, o risco de o espectador ser visto vendo, quebrando assim a magia do cinema. Assim como na fotografia, em que existe um momento em que se fecha os olhos: o ponto em que o foco toca o indivíduo. O instante em que a luz toca o sujeito, em que ele é “fotografado”, inscrito pela luz. 
Sou apaixonada pelo cinema, desde quando assisti pela primeira vez filmes em preto e branco na televisão. Naquela época os audiovisuais demoravam anos até chegarem à televisão brasileira, o jeito era assistir a reprise de séries e filmes clássicos como: “A Feiticeira”, “Bonanza”, “Os Pioneiros”, “Jeannie é um Gênio”, “Planeta dos Macacos”, “Clube dos Cinco”, “Psicose”, “Curtindo a Vida Adoidado”, “O Iluminado”, “Sociedade dos Poetas Mortos”… entre muitos outros que despertaram cada célula imaginativa de meu ser. “Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”, já dizia o genial Charles Chaplin, ele que emocionava a todos somente com as imagens.
O poder da imagem que se registra de forma real ou imaginaria em nosso inconsciente ou subconsciente sempre me fascinou, tanto que resolvi levar a psicologia ao cinema no meu Trabalho de Conclusão de Curso, no qual pesquisei sobre como e porque a arte cinematográfica tem a capacidade de nos tocar, favorecendo, assim, novas formas de lidar com nossas questões e conflitos. 
Meu irmão, Flávio Luis Ferrarini, foi um dos que leram meu TCC; quiçá lá de outra dimensão seu espírito de luz tenha me proporcionado o privilégio de acompanhar a produção do curta-metragem baseado no seu livro “O Menino da Terra do Sol”. O filme foi premiado em muitos festivais de cinema, como o LABRFF em Hollywood, terra do Oscar, cujo troféu alguns afirmam ter sido inspirado no deus egípcio Ptah, patrono de artesãos, artistas e escribas.  
Mesmo que a estátua do Oscar não tenha sido baseada em um deus, sou grata a Deus e a todos que tornaram possível que o curta-metragem, “O Menino da Terra do Sol”, fosse realizado e seja apresentado em lugares públicos, escolas e para quem, assim como Felini, acredita que “o cinema é um modo divino de contar a vida”.