Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Entre Uma Coisa e Outra

Alessandra Pauletti, artista visual. Nasceu em São Paulo e reside, desde a infância, em Nova Pádua. Em seu trabalho explora o universo das narrativas mitológicas. 

Madeleine Ferrarini, psicóloga, florense. Idealizadora e coordenadora do Instituto Flávio Luis Ferrarini.

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Livros Livres

A arte é muito subjetiva, e por ser subjetiva é capaz de completar o ser humano de forma tão única

Tentei resistir em escrever sobre uma de minhas paixões: os livros. No entanto, a Alessandra, minha parceira nessa jornada literária/artística me provocou com uma de suas belíssimas e significativas obras de arte: ‘Livros Alados’. Normalmente a Ale se inspira nos meus textos para fazer as ilustrações, porém, desta vez, seguimos o caminho contrário, seguimos ‘o caminho do artista’.   
Logo após aprender o be-a-bá, comecei a ler tudo que me caísse nas mãos: primeiramente foram os gibis. Minha ficção por livros sempre foi tanta que para aproveitar e prolongar o prazer da leitura eu lia tudo, tudo mesmo, cada palavrinha entre a capa e a contracapa.
Um dos livros que li ainda na infância e que me marcou muito foi “Anarquistas Graças a Deus”, de Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado, retrato afetivo sobre o cotidiano de sua família de imigrantes italianos que buscava sobreviver na São Paulo do início do século XX.
Com o José Mauro de Vasconcelos em “Meu pé de laranja lima” chorei como se tivessem espremido todas as limas em meus olhos ao acompanhar as adversidades do menino Zezé. Em “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez, fui guiada pela solitária saga de gerações da família Buendía, a história transcende dimensões históricas e psicológicas. Não posso esquecer de mencionar Monteiro Lobato, com o qual embrenhei-me no universo da boneca de pano, Emília. Antes de ler suas histórias do “Sítio do Picapau Amarelo” nas páginas dos livros, pude vê-la na telinha preto e branco, aos seis anos, quando no início dos anos 1980 chegou a televisão na nossa casa e foi instalada em cima do ‘Frigidaire’ azul. 
Quando eu tinha 11 anos, minha família saiu da colônia para vir morar na cidade. Passei então a estudar em uma ‘escola grande’, na qual inicialmente me senti triste e isolada. Novamente os livros me salvaram: além de retirá-los na biblioteca da escola, semanalmente ia a Biblioteca Pública Érico Veríssimo e passava horas enveredada em meio às histórias de escritores que me faziam “Olhar os lírios do campo”. 
Já na faculdade, passei a ler livros e artigos científicos sobre psicologia, os quais ‘viraram a chave de minha mente’ ao ponto de gerar confusão, dessas confusões que nos fazem ter a agradável sensação de estarmos na contramão dos demais, ao encontro do nosso Eu. 
A literatura é apenas uma das formas de arte. Arte tem origem na palavra grega técne (técnica), e em seu sentido etimológico trata-se de uma habilidade natural ou adquirida. No livro “O caminho do artista”, a autora, Julia Cameron, constata que “as pessoas costumam acreditar que arte e criatividade são baseadas em fantasias, quando na verdade são baseadas na realidade”. 
Ninguém é obrigado a gostar de todas as artes, mas tem o dever de saber que a consomem todos os dias, seja ao escutar uma música, assistir um filme, uma série ou uma novela, seja ao ler um texto virtual, um jornal ou um livro, seja ao apreciar uma construção… Temos o dever de saber que ser artista é um trabalho como qualquer outro, que exige muito esforço, tempo e dedicação. 
No caso dos escritores não é diferente, a dificuldade em escrever e publicar para ser lido e, quiçá, valorizado por alguém, é remota. 
A história da humanidade foi resguardada por alguns ‘malucos’ que decidiram que valia a pena dedicar seu tempo para deixá-la desenhada nas paredes das cavernas e escrita em manuscritos.
A arte é muito subjetiva, e por ser subjetiva é capaz de completar o ser humano de forma tão única. 
Será que algo disso tudo tem algum sentido para nós?
Talvez para alguns nada disso tenha sentido se não for percebido que a arte, a boa literatura, nos permite ‘virar a chave’ para que possamos ter a liberdade de ser.

Obra: Livros Alados
Arte: Alessandra Pauletti