Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Entre Uma Coisa e Outra

Alessandra Pauletti, artista visual. Nasceu em São Paulo e reside, desde a infância, em Nova Pádua. Em seu trabalho explora o universo das narrativas mitológicas. 

Madeleine Ferrarini, psicóloga, florense. Idealizadora e coordenadora do Instituto Flávio Luis Ferrarini.

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Minha vida pelos caminhos da arte

Qual é a relação da Arte com a Psicologia?

Qual é a relação da Arte com a Psicologia? Confesso que demorei um bom tempo para saber a resposta, se é que a encontrei... 
Nasci em meados dos anos 1970, no interior do interior de uma pequena cidade, a escassez de recursos e informação fazia com que fosse necessário esforço e tempo para obter conhecimentos básicos, o sentir sempre veio primeiro que a razão, por questão de sobrevivência emocional tornou-se necessário sair da realidade para criar um futuro.
Certamente, assim como aconteceu com muitos de nós, as dificuldades e necessidades da minha vida foram atenuadas devido a presença da arte. 
A primeira arte a me encantar foi a literatura: quando criança meu pai lia e contava histórias reais e inventadas que despertaram minha imaginação. Nos acordes do violão de meu irmão, fui tomada pela alegria de cada melodia. Nas imagens em preto e branco da televisão, conheci a sétima arte; antes mesmo de aprender a ler, aprendi a ‘ler imagens’. Na pré-adolescência, já morando na cidade, tive a experiência de fazer teatro. Interpretando personagens desvendei a mim mesma; em seguida veio a dança, também nada profissional, era apenas um ‘sacolejar do corpo’ ao ritmo das matines dançantes nas tardes de domingo, onde as emoções eram extravasadas. Nas lembranças das festas juninas, dos festivos filós na casa de meus pais e de meus avós maternos, criei o gosto pela arte do encontro. Ao admirar a arquitetura, imaginava cada entalhe na madeira feito pelas mãos habilidosas do nono Ferrarini. Somente bem mais tarde soube da herança artística secular que atravessou mares de gerações, vinda da doce Cremona, na Lombardia, terra do violino Stradivarius e da arte. 
Entre as nove musas que representam as linguagens artísticas, talvez o sopro do aulo de Euterpe, considerada musa da música e da poesia lírica, tenha despertado meu olhar inato pelas artes e a curiosidade pela psique humana. Todavia, apesar de ser um sonho antigo, os estudos em Psicologia somente começaram quando já balzaquiana.
A Psicologia respira todas as artes, e, eis que meu trabalho de conclusão de curso foi sobre Cinema e Psicologia! Nada mais prazeroso que poder estudar a arte cinematográfica através da história, com base na ciência psicológica. 
Seguramente, a Psicologia ‘afetou’ minha vida em todos os aspectos, minhas crenças passaram por um rigoroso processo de reavaliação. Descobri na prática o significado do pensamento de Sócrates: “Só sei que nada sei...”. Passei por um processo de mudança interna que possibilitou que novos vínculos fossem estabelecidos.
Um dos objetivos da Psicologia é tornar mais evidente o quanto o indivíduo se encontra conectado ao seu meio social, de modo que passe a se sentir parte dele e não mais um excluído. Segundo as premissas da Psicologia Social, quando em grupo, as pessoas agem de maneira diferente do que se estivessem sozinhas, é o meio no qual se está inserido que determina nossos primeiros padrões de pensamento.
É um grande desafio fazer com que o indivíduo possa ver o lado bom da vida e lhe propor alternativas como transformador da sua própria realidade. 
Uma das maneiras que nós, seres humanos, encontramos para evoluir é sublimando, colocando nossas emoções na arte. Sempre ao observar uma obra de arte fico imaginando os símbolos usados pelo artista. Quais suas emoções e pensamentos? Tal e qual ao escutar uma história de vida vou pincelando mentalmente a tela em branco, até que se forme a imagem que irá desvendar alguns dos mistérios da inestimável arte de viver. 

Obra: Euterpe, a Deusa da Música
Arte: Alessandra Pauletti