Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Alessandra Pauletti e Madeleine Ferrarini

Entre Uma Coisa e Outra

Alessandra Pauletti, artista visual. Nasceu em São Paulo e reside, desde a infância, em Nova Pádua. Em seu trabalho explora o universo das narrativas mitológicas. 

Madeleine Ferrarini, psicóloga, florense. Idealizadora e coordenadora do Instituto Flávio Luis Ferrarini.

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Nas paredes do tempo

O povo egípcio cultuou o poder feminino, tendo Ísis como principal divindade, deusa venerada como a representação da maior essência materna

Todo mundo tem medo do tempo; mas o tempo tem medo das pirâmides”. Ao visitar o país dos deuses e deusas, pude compreender, na prática de dias tórridos, o significado desse ditado egípcio.
Mesmo antes de sequer imaginar que um dia poderia viajar, o primeiro lugar que eu sonhava conhecer era o Egito. Esse misto de sonho, imaginação e desejo acolhe o berço do que chamamos de civilização. Um país impressionante em todos e para qualquer sentido, repleto de contrastes e diferenças. Ambiguidades latentes, sem qualquer cerimônia de exposição, ou seja, da humildade à riqueza; de desertos a praias e mares azuis; dos mistérios por trás, ou melhor, por dentro de cada pirâmide. É na condição humana que o espanto se faz presente nas paredes do tempo, graças a maneira sábia que esse povo conseguiu desvendar alguns enigmas da humanidade, isso há mais de três mil anos.
A civilização egípcia desenvolveu conhecimentos na área da arquitetura, astronomia, matemática, anatomia humana, além da inestimável contribuição para o sistema de escrita e das belas artes incrustradas nas paredes dos templos, ou seria tempo? 
Seus templos contam a história de uma civilização que imprimiu em suas paredes desenhos, símbolos e manifestações de uma sabedoria muito além de seu tempo, ou seria de qualquer tempo? As esculturas, escritas e pinturas deixaram e, incrivelmente, dialogam nos dias atuais com diferentes culturas e tipos de conhecimentos. Esse sábio povo desbravou terras nas margens do fértil Rio Nilo, cujas cheias depositam todo material necessário para alimentar a fome de vida. As areias douradas dessa terra milenar até hoje escondem segredos ainda por revelar.
Um dos deuses mais venerados pelos egípcios é Rá, Deus Sol, que tudo provém. Os egípcios traduziram a forma dos raios solares para construir as pirâmides e lá dentro depositaram corpos mumificados na esperança de que pudessem renascer guiados por Anúbis. 
As monumentais pirâmides eram construídas de dentro para fora. Escavavam túmulos na altura que a alma precisaria subir para se purificar e transcender. O fato de serem enterrados junto aos seus pertences pessoais ajudou a preservar a história para que pudéssemos construir o futuro de nossa civilização.
Importante reportar que a tecnologia de fotografias não existia, sendo que, o muito que tinham eram as paredes em que desenhavam suas atividades cotidianas. Com o passar do tempo, experimentações e conhecimento, conseguiram criar algo parecido com o papel, o papiro. Considerado um dos grandes marcos da invenção humana, o papiro é feito da planta do mesmo nome, cujo o caule tem formato triangular e floresce como se fossem raios de sol. 
O Egito vai muito além das pirâmides e desertos, é o país que abrigou o conhecimento da humanidade na grande Biblioteca de Alexandria. 
O povo egípcio cultuou o poder feminino, tendo Ísis como principal divindade, deusa venerada como a representação da maior essência materna e por todas as dimensões da essência. Hatshepsut, como a primeira faraó mulher, era considerada uma dos governantes mais importantes do antigo Egito, cujo reinado foi pacífico e reafirmou o poder egípcio com outras armas: a diplomacia e o desenvolvimento do comércio internacional. Por outro lado, Cléopatra foi a última rainha do Egito, ficou conhecida por falar diversos idiomas e por liderar de maneira firme e autônoma, tornando-se uma das governantes mais poderosas de todos os tempos.  
Não tem como não ficarmos boquiabertos diante dos esplendorosos templos de Abu Simbel, onde Ramsés II construiu dois enormes templos cravados na rocha, um para ele e outro para sua esposa, Nefertari, o qual posicionou sua entrada para a alba e escreveu em sua fachada: “O sol nasce todos os dias para você”. Um amor esculpido em pedra que resistiu ao tempo e as intempéries, assim como a imortal cultura egípcia, que segue presente em nosso inconsciente coletivo. 

Obra: Ísis
Arte: Alessandra Pauletti