Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti

Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti

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Do cinema ao praial, até a domingueira na canônica

Ao longo de sua história, Flores da Cunha teve diversos espaços de lazer para diversão da população

Ao longo de sua história, Flores da Cunha teve diversos espaços de lazer para diversão da população. Diferente dos dias atuais, com rotas turísticas e inúmeras vinícolas, em outros tempos os espaços eram limitados. Se no início da colonização os filós entre os vizinhos e os encontros nas capelas eram fundamentais, aos poucos o município organizou espaços que iam além da missa e dos jogos no salão da comunidade.  
Pode-se dizer que um dos primeiros foi o Cine Teatro Pró-Trento criado em 1910, em frente à Praça 15 de Novembro (atual Praça da Bandeira). Um prédio de madeira abrigava palco e sala de projeção onde os moradores se divertiam assistindo a matinês e peças teatrais. Em um tempo em que não existia televisão, o cinema da lanterninha mágica era sonho de consumo. Na década de 1940 a antiga construção deu lugar a um prédio em alvenaria. Em 1949, Orestes Pradella o comprou da sociedade Pró-Trento e o vendeu para seu genro, Hilário Sgarioni. O Cine Central tinha sessões aos sábados e domingos e funcionou até 1988.
Se não iam ao cinema, assistiam aos jogos de futebol. Aos domingos era sagrado: missa de manhã e futebol à tarde. Na sede do município, existiam dois clubes: o Esporte Clube Independente, fundado em 21 de abril de 1947, que possuía um time de futebol e promovia tradicionais bailes, embalados por músicas clássicas e trajes a rigor; e o Grêmio Esportivo São Luiz, fundado em 27 de março de 1954, que também possuía quadros de futebol e realizava carnavais memoráveis, entoados por marchinhas e fantasias. 
No final da década de 1960, surge a Whiskeria, um local diferente que se tornou ponto de encontro da sociedade florense, na Rua Júlio de Castilhos. O espaço compreendia restaurante, bar e sala de chá. Em 1973, durante a 2ª Festa Nacional da Vindima, o empresário Eloy Kunz lançou também a Pousada do Galo Vermelho, um empreendimento sofisticado que atraia turistas de todo o país. A pousada possuía uma notável infraestrutura composta por apartamentos e chalés. Tinha um galpão crioulo, boate, duas piscinas e uma quadra de tênis.
A poucos metros da Pousada do Galo Vermelho existia o Recanto Chaparral, de propriedade de Arthur Corso. O local possuía piscina e pista de dança ao ar livre, onde eram realizadas apresentações de conjuntos musicais e o Grito de Carnaval. Os jornais de Caxias do Sul eram só elogios para o espaço que, em 1976, inaugurou uma gruta junto à piscina. “Em nossa Caxias do Sul muito se tem comentado da Boate Chaparral de Flores da Cunha. Quem já esteve presente adorou o local. Piscina, luz negra, sortido bar e músicas gravadas em fitas com os últimos lançamentos. Sinal de que a vizinha cidade tem bom gosto para promover o modo de ser”. (Pioneiro, 14 de fevereiro de 1976). Mais tardar, o espaço ficou popularmente conhecido como ‘piscina do Magrin’.
Se a ideia era se refrescar nos dias quentes de verão, em 1º de maio de 1972 foi fundada a Sociedade Recreativa Aquarius, um espaço para que os associados pudessem desfrutar de momentos memoráveis ao redor da piscina e das churrasqueiras na área de camping. Mas, aqueles que não eram sócios da Aquarius podiam se divertir em outro local, verdadeiro paraíso a céu aberto: o praial do Rio das Antas ou o “praial dos amigos”, que foi inaugurado oficialmente em janeiro de 1975.  “É um local de incomparável beleza natural, com uma praia de 300 metros de águas mansas, onde as crianças podem banhar-se sem correrem risco. Junto à praia há um bosque, onde podem ser instaladas mais de quinhentas barracas. Tem bar, vestiários, banheiros e água potável”. (O Vindimeiro, 16 de janeiro de 1975). Mais de dois mil veranistas participaram da abertura, que contou com missa e bênção ao local, além de churrasco festivo. O praial foi ponto de encontro durante quase 30 anos. A partir de 2001, com a construção da hidrelétrica Castro Alves, o espaço foi inundado pelas águas da barragem e ficou apenas na lembrança. 
Com o praial, também surgiram novas opções de lazer. Em 1977, foi inaugurado o Camping da Vindima, na antiga Estação Experimental e, a partir de 1980, foram estruturados o Parque da Gruta de Otávio Rocha, que recebeu uma estátua de Nossa Senhora das Graças vinda da França, e o Mirante Gelain. 
Longe da natureza, na área central foi inaugurada em 13 de fevereiro de 1970, durante a Festa de Nossa Senhora de Lourdes, a quadra de esportes da Igreja Matriz, no local onde se encontrava o antigo salão paroquial.  A quadra, toda em cimento e construída com doações comunitárias, ficou conhecida como ‘Cancha dos Padres’. No local eram realizados diversos torneios. 
No ano seguinte, em 27 de junho de 1971, durante a Festa de São Pedro, o salão paroquial – que havia sediado a 1ª Festa da Vindima – foi apresentado oficialmente. O espaço serviria para a realização de eventos sociais, bailes e casamentos. Alguns de seus momentos marcantes foram as “domingueiras na canônica”, como dizia a rapaziada. Para angariar recursos, a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes passou a realizar, entre as décadas de 1990 e 2000, bailes com som mecanizado nos vespertinos dominicais. Como um local paroquial, pontualmente às 23h, as luzes eram acesas e as domingueiras se encerravam para recomeçar no domingo seguinte.
E você, frequentou algum desses locais?

 

 

Abertura do praial do Rio das Antas, em 1975.

 

 

 

 

 

 

Cancha dos Padres, inaugurada em 1970, foi ponto de encontro durante muitos anos.
 

 

 

 

 

 

Pavilhão onde funcionou o antigo cinema de Nova Trento.