Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti

Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti

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NPAV: o que aconteceu?

Núcleo de Produção Audiovisual estava localizado no Parque da Vindima Eloy Kunz

Tudo estava desenhado para ser um grande projeto. Mas não foi bem assim que terminou. Em 2005, Flores da Cunha foi contemplada no programa Victur/Urb-al, um financiamento da União Europeia com o objetivo de promover o desenvolvimento dos países da América Latina para o turismo. Para o município ficou acertado a estruturação do Núcleo de Produção Audiovisual (NPAV), um complexo audiovisual ímpar para formação, capacitação e fomentação da produção cinematográfica na Serra Gaúcha, além da realização de documentários que valorizassem a identidade cultural. Mais do que isso, o NPAV seria um porto seguro para a produção dos filmes do Astro – Festival de Cinema Estudantil, realizado pela Escola Estadual São Rafael desde 1999. Em junho de 2006, um convênio de €157,9 mil Euros (R$ 465 mil à época) entre a União Europeia e a prefeitura de Flores da Cunha foi assinado. Setenta por cento do investimento era do órgão internacional e 30% do município. Como muitos disseram era um “presente para a valorização da cultura local” e “um poderoso instrumento de registro histórico”. 
A antiga sede da Secretaria Municipal do Turismo, situada junto ao pórtico de entrada do Parque da Vindima Eloy Kunz, foi reformada e estruturada para receber o projeto. Mais de R$ 200 mil foram investidos em equipamentos de alta tecnologia para gravação, edição, finalização de imagens e som. O espaço de 146,7m² recebeu computadores G4 e MacPro, câmeras JVC, digitais Sony, ilha de digitalização, tripés, monitores de vídeos e equipamentos profissionais para captação de áudio. Era um estúdio profissional para realização de documentários e auxílio às gravações do Astro. Um profissional de cinema foi contratado para gerenciar o local. E em fevereiro de 2007, durante a 11ª Festa Nacional da Vindima, com as honras e a presença da atriz florense Maria Della Costa, o espaço foi inaugurado. A alcunha recebida oficialmente foi NPAV – Espaço Maria Della Costa. A atriz descerrou a placa inaugural e autografou um grande banner em sua homenagem.
Nascia o NPAV de Flores da Cunha, que nos quatro anos seguintes seria o orgulho da cidade e a levaria a ser reconhecida internacionalmente. O espaço deu início a produção da série Vindima da Imagem, composta por 12 curtas-metragens que retratavam temas vinculados à imigração italiana. Os vídeos foram exibidos em uma mostra itinerante pelo interior do município e da região, estiveram presentes no 37ª Festival de Cinema de Gramado, durante o Gramado Cine Vídeo e um deles recebeu prêmio internacional. Em 2011, o curta-metragem ‘Il Paese Della Cucagana’ (O País da Cocanha) recebeu o primeiro lugar na categoria Andati in Onda e o prêmio máximo Vincitore Assoluto no Concorso Memorie Migranti – VII Edizione, realizado em Perúgia, na Itália. O curta, inspirado no mito do país da cocanha, conquistou também a Seleção Oficial – Mostra Brasil Real, no XV Festival de Cinema Iberoamericano de São Paulo. 
Ao mesmo tempo, o NPVA promovia oficinas, palestras e cursos na área para o público em geral e também para os estudantes da Escola Estadual São Rafael envolvidos com o Astro, os quais também podiam utilizar a estrutura física e os equipamentos do Núcleo para elaboração dos vídeos. Falava-se, inclusive, do NPAV se tornar uma escola de cinema. 
Tudo ia ‘de vento em popa’, até que as coisas começaram a ruir. Em virtude da troca de governo, em 2009 o então diretor do NPAV precisou deixar o cargo pela possiblidade de sua contratação ser caracterizada como nepotismo. O NPAV seguiu, fazendo um trabalho aqui e acolá, mas não mais funcionando de forma periódica. No ano seguinte, em 2010, diversas reuniões foram feitas para dar sequência às produções. Chegou-se a cogitar que uma empresa externa assumisse o espaço e desse um novo perfil. Projetos em parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS) foram apresentados. Nada saiu do papel. O NPAV seguiu fechado e nunca mais reabriu. Os equipamentos – descritos como os melhores na época de sua aquisição – foram se deteriorando, os computadores caíram em desuso e alguns materiais sumiram. Os curtas nunca mais foram exibidos e as fitas foram abandonadas. Em 2019, o espaço foi reformado para abrigar a Casa dei Noni, para comercialização de produtos coloniais. E, assim, Flores da Cunha fechou as portas para um projeto inovador.

Um grande legado

Nem tudo são lástimas. O NPAV deixou um legado histórico-cultural grandioso. Através da série Vindima da Imagem foram produzidos 12 curtas-metragens que registraram a colheita da uva, o cotidiano na colônia, a religiosidade, a produção do vinho, o talian (hoje língua co-oficial do município), a gastronomia, as memórias da imigração, o papel da mulher, os contos fantásticos, a produção de alimentos e as tramas políticas. 
São eles: ‘Vida na Colônia’, ‘Sabores de Armelinda’, ‘A sinfonia de Suely’, ‘Porta el progresso’, ‘Eu te abençoo vida’, ‘Deus abençoe nosso lar’, ‘O País da Cocanha’, ‘Sangue na Lua’, ‘Vinho de Verdade’, ‘A Matança do Porco’, ‘A que horas passa o trem?’ e ‘Em Busca do Artitchóqui Sagrado’.