Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti

Danúbia Otobelli e Gissely Lovatto Vailatti

Memória

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O que um jornal tem de tão especial?

Independentemente de sua periodicidade, registram o cotidiano de um determinado lugar ou de um grupo de pessoas

Os meios de comunicação, quando podem ser conservados, são fontes de pesquisa com prazo de validade indeterminado. Independentemente de sua periodicidade, registram o cotidiano de um determinado lugar ou de um grupo de pessoas. E, por mais que as notícias sejam de interesse momentâneo, ao serem resguardadas, dão ciência de que, com o passar do tempo, tornar-se-ão elo preciso e precioso entre passado e presente. Neste contexto, o jornal torna-se uma fonte de extrema importância. E, mesmo que, para muitos, depois de lido, salvo recortes de interesse pessoal, passe a ser usado para qualquer outro fim, sempre haverá alguém ou algum local, dentre centenas de assinantes, que manterá íntegro, permitindo o acesso à informação quando esta, com o distanciamento temporal do ocorrido, se tornar relevante. 
As palavras, portanto, quando registradas, mais que elucidar acontecimentos, dão significado ao cotidiano humano. Informações, notícias e até mesmo a publicidade, registram marcas de seu tempo, referendando hábitos, costumes, atividades, questões ambientais e o processo de desenvolvimento social e econômico. Tornam-se de suma importância a um número indescritível de pessoas, próximas e distantes. As imagens, que viajam na memória de quem conta ou reconta um fato, impressas, transformam-se em fontes de leituras da realidade. Apontam para os referenciais antropológicos que definem determinada sociedade. 
Havendo por si só esta relevância, mais ainda se torna importante quando é uma espécie de “diário” da história de um lugar. Por isso, quando um município pode contar com um periódico impresso, confia para si a veiculação de informações únicas, que registram o cotidiano local e fatos marcantes ocorridos em determinado espaço de tempo. Assim também construíram história os jornais ‘O Vindimeiro’ (1972-1980) e ‘O Florense’ (1986-2023), dentre outros que circularam por menor tempo, ou regionalmente, informando acontecimentos locais. O tempo parece próximo, mas está justamente aí a essência de sua importância. Por estar próximo, assim como se faz com fotografias resguardadas em um celular, situações vivenciadas no tempo presente, quem está vivendo o momento raramente se preocupa em resguardar resquícios. 
As coisas ganham importância com o tempo. No momento exato e seu imediato entorno, mesmo quando marcam a vida de alguém, ainda assim, parece que a memória tudo irá guardar. E, muito pelo contrário, em alguns meses não se sabe mais o dia exato, exatamente quem estava presente, e assim, muitos outros detalhes simplesmente se esvaem. Porque, para nosso bem-estar biológico, antes de tudo, guardamos lembranças específicas e generalizadas e, principalmente, geradas por sentimentos que tenham causado impacto em nossas vidas. Todo o restante precisa ‘cair no esquecimento’, para melhor lidarmos com as memórias e necessidades de curta duração. Por isso, a memória, ao mesmo tempo que traz vida a documentos e imagens, também é limitada. Literalmente, podemos dizer que lembramos de muito e ao mesmo tempo, muito pouco de tudo lembramos.
É isso que um jornal tem de tão especial: registrar fatos presentes para elucidar e tornar conhecido e, com o passar do tempo, preservar fatos passados. Isso inclui datas, pessoas, locais, circunstâncias. E, dessa forma, cada vez mais tornam-se substanciais para gerir informações de tudo o que não foi documentado oficialmente. Imagens, relatos, informações, permitem acesso ao passado e tornam-se fontes valiosas de pesquisa, contendo informações que a memória tende a deletar.

 

 

 

Construção da Praça do Imigrante, em frente ao Hospital Nossa Senhora de Fátima.