Juliano Carpeggiani

Juliano Carpeggiani

Cinemeando

Diretor e roteirista há 15 anos, é bacharel em Cinema pela Realização Audiovisual/Unisinos. Seus curtas-metragens O País da Cocanha (documentário) e Lá Longe (ficção) venceram o grande prêmio em festivais de cinema nacionais e internacionais. Cria e produz todos os tipos de conteúdos audiovisuais com ênfase na narrativa cinematográfica.

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Burguesia e consciência de classe

Nos últimos anos vem surgindo na tela do cinema filmes sobre a abismal distância entre classes e a ignorância da conscientização social

Nos últimos anos vem surgindo na tela do cinema filmes sobre a abismal distância entre classes e a ignorância da conscientização social. ‘Parasita' (2019), o celebrado e multipremiado filme do diretor Bong Joon-ho, notadamente é o de maior sucesso. Dessa safra, que inclui ‘O Menu’ (2022) do diretor Mark Mylod, está o também premiado ‘Triângulo da Tristeza’ (2022), escrito e dirigido por Ruben Östlund.
‘Triângulo da Tristeza’ é um filme que vale ser assistido por diversas razões. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado a Melhor Filme no Oscar, escancara vaidade e desprezo da burguesia pelo proletariado. Mas não de forma militante, muito menos maçante. É uma sátira sobre a realidade atual do capitalismo doente. Nota-se o humor ácido que vai conduzir a trama logo na primeira cena, quando a razão do título do filme surge inesperadamente (confesso que não conhecia esse termo e nem a importância para o casting de moda). Fui pego de surpresa e dei uma gargalhada.
O enredo começa com um jovem casal de modelos – ela, uma famosa influencer com milhares de seguidores que vive das “publis”. Eles ganham passagens em um cruzeiro de luxo para aristocratas milionários. Tudo muito perfeito num cenário instagramável: requinte, ostentação, benesses e excentricidades. Os funcionários da embarcação são rigorosamente cobrados para servir com a máxima eficiência. Instruídos a fazer toda e qualquer vontade dos hóspedes, mesmo as mais bizarras. Os excessos dos endinheirados, que vivem de abundância e exclusividade, são atendidos pelo povo invisível, insignificante. 
O cenário de Instagram começa a ruir com o capitão do barco, um alcoólatra comunista completamente fora de controle. Durante o mais esperado jantar do cruzeiro, uma tormenta transforma a viagem em um pesadelo. Um terror escatológico e sarcástico.
Sem mais spoilers, saiba que essa é só metade do filme. O que acontece a partir de então deve ser um desafio à conscientização de classe de cada um. Disponível no streaming Prime Video ou aluguel pelo Youtube.