A temática é desenvolvida (transversalmente) no formato sanduíche crônica/música/livro

Publicado em 2004, o livro ‘Amor é prosa, sexo é poesia – Crônicas afetivas’, de Arnaldo Jabor, tem uma levada que me interessa muito: a transversalidade. Já no título se pode detectar a relação do livro com a música Amor e Sexo, de Rita Lee. Poderia parecer pouco provável aquele comentarista político, grandalhão e irônico, tratar desse tema, mas eu me atrevo a dizer que o equilíbrio entre amor e sexo é resultado de atitudes essencialmente políticas. E Jabor, no primeiro capítulo do livro, escreve que “Esses frêmitos de amor acontecem quando o ‘eu’ cessa, por brevíssimos instantes, e deixamos o outro ser o que é em sua total solidão”. Ora, se isso não é política... 
A temática é desenvolvida (transversalmente) no formato sanduíche crônica/música/livro. Rita Lee leu a crônica. Ela, o marido Roberto de Carvalho e Jabor compuseram em collab e logo depois o livro revelou muita inspiração na própria música, não fechando o ciclo, mas abrindo uma espiral inesgotável.
Chamar o texto de crônicas afetivas não significa ler um livro repleto de pieguices. É outra coisa. O livro é uma explosão de sentimentos (como é o sexo) alimentados por uma ampla gama de questionamentos (como é o amor). “Que estranho ‘presente’ é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido”. Essa era a dialética de Jabor em 2004. Que estranho presente...
E, exatamente como uma crônica deve ser, nada no livro é absoluto. São reflexões com reflexos do contexto. O livro é a afetividade oscilando entre o macro e o micro. Talvez uma leitura saudosista, mas certamente uma análise dualística – como o amor e o sexo, a prosa e a poesia.

197 páginas
Português
Editora Objetiva
Ano da publicação: 2004