Nata Francisconi

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Certo por linhas tortas

O autor argentino Julio Cortazar publicou, em 1963, o livro Rayuela (O Jogo da Amarelinha, em português)

A construção literária, musical e cinematográfica com quebra de linearidade temporal dá ao público a possibilidade de escolher a ordem em que serão narrados os fatos. Essa técnica passeia livremente em diferentes tipos de publicações.
O autor argentino Julio Cortazar publicou, em 1963, o livro Rayuela (O Jogo da Amarelinha, em português). Segundo o autor, “esse livro é muitos livros; mas, sobretudo, é dois livros”. 
Ao todo, O Jogo da Amarelinha possui 155 capítulos, divididos em três partes. A primeira forma de ler é linear e termina no capítulo 56. A leitura quebrada tem início no capítulo 73 e ao final de cada capítulo há a indicação de qual capítulo deve ser lido a seguir.
O cantautor uruguaio Jorge Drexler usou técnica semelhante no projeto N, um álbum-aplicativo em que se pode ouvir três canções (Habitación 316, Madera de Deriva e Décima a la Décima) em ordem aleatória. O material foi composto customizado para a plataforma. 
“É música construída para navegar no caos”, define Drexler. “Habitación tem 38 versos combináveis, e todos fazem sentido com todos. É possível produzir 1.027 versões diferentes da música. São mais possibilidades que todos os grãos de areia de todas as praias do mundo!”
Em cartaz na Netflix, Caleidoscópio brinca com a mesma lógica construtiva. Criador do show, Eric Garcia procurou reforçar a proposta interativa da produção, afirmando em entrevista ao New York Times: “Sinto que podemos confiar no público. Há tanta coisa na TV e acho que as pessoas querem algo diferente. [...] No que me diz respeito, não existe ordem perfeita”.
Nessa mesma lógica, a psicóloga paulistana Natalia Timerman, autora do livro Copo Vazio, denomina o primeiro capítulo do livro como ‘Depois’; o segundo é ‘Antes’; e o terceiro ‘Hoje’. Assim, a autora solta a nossa mão e nos permite transitar pelas 140 páginas do livro entremeando memórias, desejos e fatos que estruturam um romance contemporâneo, repleto de elementos que fazem parte do cotidiano.