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Moda e expressão cultural: entre tecidos e significados na Indústria Criativa

Vestir-se, muito além de uma mera escolha estilística, é um ato de comunicação não verbal, onde cada detalhe, desde cores até acessórios, tece uma narrativa única

A moda, como expressão e reflexo do comportamento, imediatamente traduz os impactos na sociedade. Vestir-se, muito além de uma mera escolha estilística, é um ato de comunicação não verbal, onde cada detalhe, desde cores até acessórios, tece uma narrativa única. Esta linguagem visual, transcende o individual, conectando-se aos ciclos econômicos, tendências comportamentais e influências culturais que moldam nosso cenário histórico. É nesse tecido social que as escolhas de moda se convertem em uma expressão coletiva, refletindo não apenas tendências do momento, mas também os valores e nuances de uma década ou período específico.
A moda, categorizada pela UNCTAD (2010) como parte dos setores criativos, vai além do design e se insere nas Criações Funcionais, contribuindo significativamente para a geração de renda, empregos e a promoção da inclusão social e diversidade. No Brasil, ela se destaca como a segunda maior empregadora, desdobrando seu impacto econômico para além das fronteiras do vestuário, influenciando inovação e tendências em setores como cosméticos, automóveis e tecnologia.
Contudo, a moda é mais do que uma indústria; é uma manifestação cultural rica em diversidade e história. Olhando para além do superficial, as roupas são vistas como portadoras de valores antropológicos, capazes de fundir conhecimentos tradicionais com as tecnologias contemporâneas. Nesse contexto, reconhecer a moda como expressão cultural implica adotar uma abordagem semiótica, onde as roupas se tornam símbolos carregados de significados. Cada peça de roupa, com suas características específicas, representa conceitos, conferindo às pessoas uma dualidade de identidade ou multiplicidade, dependendo do contexto e da interpretação. A vestimenta, assim, transcende sua função utilitária, tornando-se um instrumento poderoso de produção e troca de significados e valores na interação social.
No cerne da moda, sua linguagem é efêmera, capturando as transformações rápidas de culturas e estéticas, enquanto a linguagem das roupas estabelece uma conexão duradoura com as memórias, transcendendo as amarras do tempo cronológico. Essa dualidade entre transitoriedade e permanência ressalta o papel multifacetado desempenhado pelas roupas na construção da memória coletiva, habilmente entrelaçando o presente com narrativas do passado. A linguagem não-verbal das roupas na moda revela-se como uma forma intrincada e enriquecedora de comunicação, onde as escolhas de vestuário vão além de sua utilidade básica, transformando-se em expressões simbólicas que constroem significados e transmitem mensagens em um contexto cultural e social específico. Cada costura é um elo vívido com o passado, mantendo viva a história por meio de uma tapeçaria de tecidos e estilos que ecoam as complexidades de nossa sociedade em constante evolução.
Em um mundo onde a moda é tanto uma indústria de grande escala quanto um reflexo das escolhas individuais, vê-se a moda como expressão cultural através dessa dualidade entre produção em massa e manifestação pessoal, destaca não apenas a complexidade inerente à moda, mas uma rica tapeçaria de criatividade, identidade e expressão cultural.

Milena Cherutti
Doutoranda em Processos e Manifestações Culturais, pesquisadora e gestora do projeto ‘Cluster GameRS: Cluster de Jogos Digitais do Rio Grande do Sul’, sócia-fundadora da empresa MC Consultoria Criativa

Cristiano Max Pereira Pinheiro
Coordenador do Programa de Pesquisa em Indústria Criativa da Universidade Feevale