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O que dificulta a sua empresa de inovar?

Criar e inventar algo é base do processo de inovação, seja de produto, processo, de comunicação para o mercado (marketing) ou de estratégia (modelo de negócios)

O conjunto de teorias clássicas, em economia e administração, convergem em relação à necessidade de estruturas organizacionais que privilegiam o controle de recursos alocados à operação. Este tipo de recomendação surgiu considerando um contexto mercadológico estável, com reduzido número de agentes econômicos na competição pelo mercado e concorrendo com base em custo e escala. No entanto, o cenário atual se alterou, de forma significativa, para a maioria das organizações. Operando em mercados caracterizados pela acirrada competição entre os agentes, o diferencial competitivo baseado apenas em custo e escala se demonstra, na maioria das vezes, inviável, suscitando a necessidade de concepção de novas fontes de diferenciação. 
Esta constatação foi evidenciada pelas organizações na segunda metade do século passado, reorientando os esforços dos gestores organizacionais para encontrar novas alternativas de se diferenciar no mercado. Com base em textos seminais de pesquisadores, como Joseph Alois Schumpeter, que se debruçaram sobre o fenômeno em tela (competitividade organizacional) e recomendaram a inovação organizacional como nova forma de diferenciação, muitas organizações despenderam esforços e capital, para reconfigurar suas estruturas, processos e, assim, se reposicionar no mercado. 
Os quatro tipos principais de inovação, mencionados no Manual de Oslo, são: a inovação de produtos, de processos, de marketing e de modelo de negócio/ estratégia. Para cada um dos referidos tipos de inovação há a necessidade de criar condições favoráveis para seu surgimento e validação. Contrariamente do que o senso comum indica como condição sine qua non para inovar, no âmbito organizacional, que seria a disponibilidade de recursos financeiros, os estudos científicos têm evidenciado que a existência de cultura organizacional favorável para inovar é tão ou até mais importante do que acesso e/ou disponibilidade de recursos financeiros.
O referido fato, na realidade, não deveria ser motivo de surpresa, pois o protagonista do processo de inovação organizacional sempre será o ser humano. Apesar dos avanços, em ritmo cada vez mais acelerado, de tecnologias digitais, de comunicação e de informação, bem como de conectividade e de inteligência artificial, há “coisas que apenas o ser humano consegue fazer”, parafraseando uma expressão de uma grande indústria de eletroeletrônicos. Mesmo com o advento e crescente consolidação das tecnologias da indústria 4.0 é possível perceber que há limites intransponíveis para a tecnologia que tenta mimetizar os processos cognitivos e criatividade inata do ser humano.
Desta forma é possível afirmar que a base e fonte da inovação é o ser humano, com sua capacidade ímpar de criar, inventar, experimentar e aprender a aprender. O desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem decorrente de experimentação, de errar, rever os passos, internalizar o erro, rever e mudar o curso e/ou processo, tentar de novo, errar novamente, assimilar, revisar os parâmetros, fazer nova tentativa e acertar... é, ainda, um fenômeno humano e essencial, para moldar a capacidade criativa.
Criar e inventar algo é base do processo de inovação, seja de produto, processo, de comunicação para o mercado (marketing) ou de estratégia (modelo de negócios). A invenção, enquanto resultado do processo criativo, se validada pelo filtro do mercado, por meio de avaliação de viabilidade técnica, econômica e comercial, poderá se transformar em inovação, que representa, cada vez mais, a fonte de geração de diferenciação para as organizações que operam em mercados caracterizados por acirrada competição entre os agentes. A repetição da expressão é deliberada e intencional, para enfatizar, pois para muitas organizações o desafio consiste em criar o ambiente favorável à manifestação da criatividade e, consequentemente, da inovação.
O referido desafio, de criar ambiente favorável à manifestação da criatividade e inovação, tem um motivo e razão de ser. Se trata do paradigma dominante, nas organizações, do que deveria ser a organização, que é a concepção clássica, original, da firma, caracterizada por estruturas estáveis, hierarquia bem definida, sistemas de controle rígido de todos os recursos alocados na operação. Pelos recursos, dentro do referido modelo, entende-se o conjunto de instalações, bens de capital, como máquinas e equipamentos, e, pasmem, pessoas. Enquanto a sua empresa considerar e tratar as pessoas como recurso, não inovará.

Dr. Dusan Schreiber
Professor no Curso de Administração da Universidade Feevale
Bolsista Produtividade PQ-2, Administração da Produção
Mestrado Acadêmico em Administração, Mestrado Profissional em Indústria Criativa, Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental
dusan@feevale.br