Economia

Safra com perspectivas otimistas no Rio Grande do Sul

Previsão da Comissão Interestadual da Uva é que Flores da Cunha colha 20% a menos no comparativo com 2011, ou seja, 85 milhões de quilos. Porém, qualidade da fruta deve superar a registrada em 2005. Clima favorável dos últimos dias garante expectativa dos produtores

O início da safra da uva deste ano em Flores da Cunha e Nova Pádua tem perspectivas positivas. Apesar da estiagem e da chuva de granizo que acabaram prejudicando a produção, os agricultores estão satisfeitos com a qualidade das uvas. “As variedades precoces estão muito boas e o grau babo também. Melhor que assim não tem como”, define o produtor de Nova Pádua Nelson Alessi. Com os pais Ivo, 72 anos, e Terezinha Alessi, 68, e o irmão Nestor Alessi, ele iniciou na manhã de ontem, dia 26, a colheita da fruta na propriedade da família, no Travessão Barra.
A previsão dos Alessi é colher cerca de 80 mil quilos de uvas. Segundo Nelson, apesar de uma quebra estimada em 20% – devido à estiagem –, as variedades Concord, Niágara e Bordô estão com ótima qualidade. “Está muito bom. Há um mês eu achava que não ia colher nada, mas começou a chover e a uva recuperou-se”, pontua. As únicas ressalvas são para a Isabel e as viníferas que não atingiram o grau babo considerado bom.

De acordo com o secretário da Agricultura de Nova Pádua, Rafael Martello, a safra 2012 promete ser muito boa, com cachos de qualidade e um grau babo acima da média. As condições climáticas favoráveis dos últimos dias, com chuvas, foram essenciais para o desenvolvimento da fruta. “O recente clima favorável garantiu essa qualidade”, diz. A safra deste ano sofreu com a ocorrência do fenômeno La Niña, que trouxe um clima mais seco, com menos incidência de chuvas. Ainda segundo Martello, a expectativa é colher em torno de 25 a 30 milhões de quilos – índice inferior a 2011, quando foram produzidos cerca de 32 milhões. “Não tem como precisar, pois, enquanto que alguns agricultores não contabilizaram perdas, outros atingiram entre 10% a 30%”, compara.

Para o coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, a vindima deste ano deve superar a safra de 2005, considerada a melhor vindima dos últimos tempos. “A uva está amadurecendo bem, os grãos estão sadios, o aspecto e a cor estão bonitos e percebe-se o perfume, o que determina um fruto firme e saboroso. A radiação solar e as parreiras não muito vistosas garantem uma safra para ser de excelente qualidade”, projeta. A estimativa é colher, em Flores, cerca de 85 milhões de quilos, 20% a menos do que a última safra, que foi de 106 milhões de quilos.

Conforme o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), no Rio Grande do Sul a vindima 2012 deve ter uma quebra de 20%. A colheita deste ano deve somar de 560 a 600 milhões de quilos de uva. Na safra passada, o Estado colheu a maior safra da sua história, com 707,2 milhões de quilos. Mesmo com o prejuízo em volume, a safra deste ano deve ser a terceira maior da história do Rio Grande do Sul, só perdendo para a de 2011 e a de 2008 – esta teve a colheita de 634 milhões de quilos. A diminuição do volume se deve em consequência do granizo e da estiagem.

Decisão do Conselho Monetário sobre preço mínimo da uva ficou para o dia 2
A espera pela oficialização do preço mínimo da uva deve durar até a próxima quinta-feira, dia 2 de fevereiro, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) agendou uma reunião extraordinária para definir assunto. O valor de R$ 0,57 ao quilo foi apontado pelo setor tendo como referência a uva Isabel de 15 graus babos e foi obtido por meio de levantamentos feitos pelos produtores da região, levando em conta fatores como a inflação, o salário mínimo e valores dos insumos agrícolas utilizados na produção.

O deputado Federal Pepe Vargas (PT) emitiu um comunicado divulgando a transferência da reunião, que estava agendada para ontem, dia 26. De acordo com o deputado, a definição do preço não entrou na pauta por razões burocráticas que impediram a análise dos órgãos técnicos em tempo hábil.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Agronegócios (Mapa) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aprovaram o reajuste de 10% ao preço mínimo. Assim, o quilo da Isabel, por exemplo, passaria de R$ 0,52 para R$ 0,57, após quatro anos de valores congelados. Outras uvas devem alcançar valores maiores. Se a uva tiver 14 graus babo, o reajuste a ser pago será de R$ 0,49 por quilo para R$ 0,54. Abaixo de 13 graus não haverá reajuste no preço mínimo.

‘É Tempo de Vindimar’
Na tarde de ontem, dia 26, a Secretaria de Turismo florense, em parceria com entidades ligadas ao setor da uva e do vinho, realizou a abertura oficial da vindima na Luiz Argenta Vinhos Finos. Autoridades e representantes de entidades participaram do ato, que contou com colheita simbólica, apresentação musical, bênção e passeio pelos parreirais. “Neste ato saudamos a nova safra, colhemos os frutos e brindamos a colheita”, pontuou o secretário de Turismo, Floriano Molon.

Por meio do projeto É tempo de Vindimar em Flores da Cunha, uma programação especial disponibilizará passeios turísticos e visitas a vinícolas do município durante os meses de vindima. Os turistas poderão contar com opções de visitações que incluem almoços, passeios por parreirais, colheita e pisa de uvas, degustação de produtos e gastronomia. Os valores variam de R$ 55 a R$ 68 por pessoa, dependendo do roteiro. São trajetos pelas rotas dos Vinhos dos Altos Montes, Caminhos da Colônia, Nostra Mérica, Melhor Idade e Vales da Serra, além de turismo rural em uma agroindústria em Otávio Rocha. Informações pelo telefone 3292.1722, ramal 216.

Agricultores ainda aguardam ajuda após granizo
A ajuda aos agricultores prejudicados pelo granizo do dia 14 de dezembro de 2011, anunciada pela prefeitura florense durante quatro audiências públicas realizadas na primeira semana do ano, ainda não se concretizou. Em Flores da Cunha, foram atingidas 318 propriedades, num total de 1.747 hectares distribuídos em 22 comunidades.

Durante as audiências públicas, representantes da administração apresentaram números e destacaram a quebra significativa também na economia do município. O prefeito Ernani Heberle (PDT) não anunciou nenhuma ajuda concreta, mas existe a ideia de deixar de realizar alguma obra planejada para trazer o auxílio às famílias afetadas. Passado mais de um mês, nenhuma medida foi anunciada.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, buscou auxílio junto aos governos estadual e federal. Um encontro com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Mendes Ribeiro Filho, resultou na criação de uma comissão. Na segunda semana de janeiro, em um novo encontro com os integrantes deste grupo, foram discutidas ações como a prorrogação do pagamento de dívidas e programas para crédito rural. “Nessas medidas não existe nenhuma novidade, é de praxe e já sabíamos que podíamos procurar por crédito rural e prorrogação de dívidas. O que pedimos foram linhas de crédito a fundo perdido para socorrer emergencialmente as famílias”, solicita Schiavenin.

Ainda existe uma expectativa do setor se a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), comparecer à abertura oficial da Festa Nacional da Uva, no dia 16 de fevereiro, em Caxias do Sul. “Pode ser que ela traga alguma novidade. Essa é a última esperança”, pondera o sindicalista.



Ivo e Terezinha Alessi, no Travessão Barra, em Nova Pádua, iniciaram a colheita ontem, dia 26. - Danúbia Otobelli
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