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Aposentadoria após 24 anos dedicados à Justiça

Juíza Tânia Buttinger tem hoje seu último dia de trabalho. Ela está há seis anos à frente da Comarca florense

Um intérprete da lei, como ponte entre as normas previstas no ordenamento jurídico e a realidade social, o juiz tem um importante papel dentro do Poder Judiciário. Flores da Cunha é assistida há seis anos pela juíza Tânia Cristina Dresch Buttinger, 54 anos. Durante a semana, a responsável pela Comarca fez seus últimos encaminhamentos como magistrada e, hoje, dia 13 de junho, tem o último dia de trabalho após ter o pedido de aposentadoria aprovado. Em seu lugar assumirá o juiz Roberto Laux Junior, que atuava no município de Santo Cristo, na fronteira noroeste. Ele deve ser empossado no dia 27 de junho.

Atuando em Flores da Cunha desde maio de 2008, a juíza Tânia completou seis anos e um mês na Comarca que abrange Nova Pádua. Seu último júri foi presidido em março. Tânia é natural da cidade de Campinas das Missões, no Noroeste do Estado. Aos 15 anos mudou-se para Porto Alegre, onde fez o ensino médio e também cursou em Direito. Durante 10 anos atuou como advogada da Caixa Econômica Federal e, depois, ingressou na magistratura. “Na época voltei para minha região. Minha primeira Comarca foi Santa Rosa, onde me casei, depois atuei em São Luiz Gonzaga, Santo Cristo e Giruá, esta última era integrada com o município de Guarani das Missões”, recorda Tânia.

Na Serra Gaúcha a juíza atuou em Carlos Barbosa e São Marcos. Foi nesta última que ela permaneceu por mais tempo, sete anos. “Em São Marcos sempre ouvi falar muito bem de Flores da Cunha, mas quando atuamos não podemos ficar muito tempo na mesma cidade, pois acaba-se criando muitos vínculos e isso não é bom. Nesse sentido é melhor a impessoalidade, isso dá mais tranquilidade para trabalhar”, acredita a juíza, que, por isso, pediu para vir para Flores da Cunha.

Durante cinco anos ela morou com a família em Flores e destaca o carinho da população. “Por todas as cidades que passei sempre me senti muito bem acolhida, até porque sempre foram cidades pequenas e que te possibilitam conhecer as pessoas. Em Flores não foi diferente, aquela coisa de conviver com vizinhos, as pessoas do bairro, minha filha fez a catequese, a participação em festas de capelas, essa convivência com os moradores foi, com certeza, um diferencial nesses anos aqui”, valoriza Tânia.

A paixão por júris
A prestação jurisdicional é uma das mais relevantes funções desempenhadas pelo juiz. No momento do júri, a existência de leis conflituosas, a infinidade de possibilidades de condutas humanas e a limitação linguística do texto legal são alguns dos pontos observados na difícil tarefa de interpretar a lei levando em consideração a realidade social. Para a juíza Tânia, os júris compõem a parte mais apaixonante da magistratura. “Tenho uma paixão especial por júri. Até pensei em me dedicar a uma Vara do Júri, como a de Caxias do Sul, mas a vida me trouxe para Flores da Cunha. O júri, como falam, é uma das vitrines nessa área”, conta.

A carreira em Flores, como juíza, também reservou aprendizado nas mais diversas ações. “O que eu realmente gosto dessa carreira é exatamente isso de ter todas as matérias. Aqui em Flores eu vejo tudo, faço júri de Infância e Juventude, de Família; realmente se aprende tudo. Sempre fui obrigada a estudar todas as matérias do judiciário, estar sempre atualizada e isso é muito bom”, completa a magistrada.
Agora, por trâmites burocráticos, ela será transferida para Gravataí, na Região Metropolitana, mas não chegará a atuar. “Só tomo posse e me aposento”, complementa. Nesses 24 anos de magistratura a juíza Tânia Cristina Dresch Buttinger somou mais de 300 júris. Agora, pretende aproveitar a família e descansar, não pensa em futuros projetos ainda. “Até o final do ano vou descansar e ver se consigo ficar parada. Quero acompanhar minha filha na escolha da profissão, por exemplo”, valoriza.


“Justiça lenta não é justiça”

Para a juíza Tânia Cristina Dresch Buttinger, o judiciário no Brasil sofre pela lentidão e a sobrecarga de trabalho – dificuldade de relacionamento entre as pessoas e a ineficiência de alguns serviços são outros pontos negativos citados por ela. “Pensar no judiciário municipal já é difícil. Estadual mais e no Brasil então... O que discutimos muito é a sobrecarga do trabalho que nos atribuem. Se fala muito da lentidão do judiciário e, realmente, com essa carga de trabalho o sistema fica lento e anda muito arrastado. É certo dizer que justiça instantânea é vingança, mas justiça lenta não é justiça”, pondera Tânia.

De acordo com a juíza, hoje o maior cliente do Poder Judiciário é o próprio governo, o qual não investe o suficiente para tornar os processos mais eficientes e ágeis. “Somos um poder que depende de verbas. Como vamos contratar mais juízes se não temos orçamento e a quem não interessa um judiciário muito ágil é o próprio governo. Organizar o Judiciário seria prejudicial ao governo, que tem o interesse que a coisa realmente ande devagar”, opina Tânia.

E se o governo não investe o suficiente no Judiciário a relação entre as pessoas – ou a falta dela –, também mudou e causa uma sobrecarga maior. São as mais diversas ações que poderiam ser solucionadas sem a necessidade de uma ação pública. “Hoje é muita beligerância. As pessoas perderam a paciência e tudo é motivo para abrir um processo. Alguns casos são bem compreensíveis, como, por exemplo, pedir o desligamento de uma televisão por assinatura. São tantos empecilhos que realmente é complicado e isso tudo vai enchendo o Judiciário. São coisas que não precisariam ser resolvidas na Justiça”, acrescenta a juíza.

Natural de Campinas das Missões, no Noroeste do Estado, agora a juíza Tânia pretende dedicar mais tempo à família. - Camila Baggio
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