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As páginas se despedem, mas o legado permanece

Casal florense tem guardada cada uma das 1.771 edições deste periódico

Inúmeras histórias, notícias, fatos. Milhares de rostos eternizados nas páginas impressas. Após 37 anos de história e 1.771 edições, O Florense se despede do formato físico, do concreto. As páginas se vão, mas o legado fica. Legado esse, que está arquivado em uma casa florense.
Delvina Corso Zietolie, 77 anos, e Gevaldino Olivo Zietolie, 79, são casados há 60 anos e há mais de 37, compartilham o mesmo hobby. Desde a primeira edição de O Vindimeiro, publicada em 1974, até a presente e última edição de O Florense, Delvina leu cada palavra impressa. Movida pelo amor a leitura, a aposentada coleciona, em sua casa, próxima a entrada do Parque dos Pinheiros, todas as 1.771 edições deste periódico. 
A sede de preencher os olhos com as palavras e a necessidade de estar informada levaram-na a acompanhar e guardar cada página. “Eu li todos. Sei pouca coisa hoje, mas quando ele vem eu leio todo ele (O Florense), eu senti agora que vai parar”, desabafa Delvina, compartilhando que sentirá falta de folhear o impresso quinzenalmente. Gevaldino, por sua vez, explica que gosta de ‘olhar as figuras’ e que não perde sequer uma edição da coluna social – inclusive ele e a esposa aparecem na ‘Objetiva’ nesta edição. 
A florense conta que começou comprando semanalmente um exemplar, até que, segundo ela, alguém lhe disse para fazer uma assinatura. No mesmo momento, Delvina solicitou a filha que fizesse. O marido, comovido com o carinho da esposa pelos jornais, aceitou tranquilamente o hábito de colecioná-los e, hoje, também carrega um apego emocional pelos exemplares.
Durante esses 37 anos, o casal foi testemunha de todas as mudanças do Jornal O Florense: as diferentes diagramações e identidades visuais, as periodicidades – semanal e quinzenal, os dias de circulação e, também, as equipes de profissionais que passaram pela trajetória do impresso.
Para o casal, que possui celular apenas para ligações, a perda do jornal impresso é profundamente sentida: “Eu não uso celular, não gosto de mexer, então para mim era bem bom, fiquei bem sentida porque gosto de ver as notícias. Vai fazer falta, era uma companhia”, relata Delvina, triste. Ela acrescenta que o impresso sempre foi uma forma de o casal se manter atualizado, tanto em relação às notícias, quanto aos eventos da cidade.
Quando questionada sobre o sentimento que define O Florense, Gevaldino e Delvina não hesitam: “Alegria. Era uma alegria para nós, quando ele chegava de manhã, sempre cuidávamos para que alguém não pegasse ou levasse às voltas. Temos todo um carinho pelo jornal”, comenta o casal, que completa que, agora, com a despedida do formato físico, o sentimento que toma conta é a tristeza.
E todo esse carinho pelo veículo é acompanhado por um cuidado rigoroso com a coleção de exemplares. “Eu empresto com ciúme e com a garantia de que vai voltar. Não sou muito fã de emprestar para depois não voltar, então sempre deixo um responsável”, confessa a aposentada, que diz já ter emprestado alguns exemplares para pessoas de confiança, e sempre os recebeu de volta. 
A florense detalha, ainda, que antigamente tinha um critério para organização dos periódicos: por ano. Mas, conforme emprestava, a ordem foi se perdendo e hoje os exemplares não estão mais distribuídos cronologicamente. Apesar disso, ela os guarda com muito zelo em um armário exclusivo de sua residência e explana que tem muita vontade de organizá-los novamente.
Sobre a reação da família a coleção de jornais, o casal diz que alguns acham bobagem, outros aceitam, ou, não se importam mais. “Gosto de guardar, eu sinto quando eu morrer. Vou tentar ver se a minha neta dá sequência, a Vitória, ela lê bastante, vou tentar dizer para ela cuidar. Vou incentivar”, compartilha a florense, acrescentando já ter tido seu rosto marcado nas páginas do impresso, quando ela e o marido completaram 50 anos de casamento, em 2013.
Nesta quinta-feira, dia 21, Gevaldino e Delvina comemoram 60 anos de matrimônio e, coincidência ou não, o casal responsável por arquivar uma valiosa história dentro das portas de um armário, está estampado na última edição deste periódico, assim como aconteceu há dez anos atrás.
Os florenses talvez não tenham ciência da grandiosidade de um simples hábito, do peso de ter guardado em um de seus móveis mais de 37 anos de história. Mais do que 1.771 edições e milhares de páginas impressas, eles abrigam rostos, palavras, fatos e notícias de uma cidade centenária. Hoje, O Florense se despede de seu formato físico, mas com a certeza de uma trajetória respeitosa e um legado que jamais poderá ser apagado.

Com muito carinho, Delvina e Gevaldino Zietolie guardam as 1771 edições do Jornal O Florense em sua residência. - Maria Eduarda Salvador Schiavenin O impresso sempre foi uma forma de o casal se manter atualizado, tanto em relação às notícias, quanto aos eventos da cidade. - Maria Eduarda Salvador Schiavenin
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