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Home office e o futuro do trabalho no escritório

Tendência para pós-pandemia, empresas florenses aderiram à modalidade e autônomos têm preferido trabalhar em casa a pagar uma sala comercial

O mundo está diferente. Com a pandemia do coronavírus, diversos aspectos sociais e econômicos sofreram alterações. Um deles foi o modelo tradicional de trabalho. Ao invés de se deslocar, as pessoas passaram a trabalhar de casa. O chamado home office, uma forma de manter os ofícios ao mesmo tempo em que se protege a saúde. E o novo sistema tem sido cogitado como uma tendência a ser adotada pelas empresas no futuro. 
Conforme o CEO da Florense Móveis, Mateus Corradi, a empresa adotou a prática do smart working. Cerca de 42 funcionários estão atuando nesta modalidade. “Quase toda a parte administrativa está atuando em smart working. No início, tivemos uma adaptação e alguns desafios, até todos se organizarem em casa, com disciplina de horários e com aplicativos de videoconferências”, relata Corradi.  Entre as plataformas que a empresa está utilizando estão WhatsApp, Zoom, Skype e Google Meet. “Está dando certo. As pessoas estão encontrando a sua disciplina em casa, potencializando a sua produção e tendo cada dia mais eficiência, sem distrações. Mas, sempre tem algumas opiniões ou dúvidas a respeito deste tipo de trabalho”, enfatiza. 
A Florense tem otimizado sua estrutura tecnológica para que os funcionários tenham acesso pleno. “Tirando as dificuldades iniciais, as pessoas estão aprovando. Muitas delas estão economizando o tempo de deslocamento até a empresa, otimizando o tempo do dia e o recurso do seu horário para dar mais eficiência produtiva”, ressalta. Segundo ele, o home office se tornará uma tendência. “Na Florense é um caminho sem volta. Talvez não com todo esse quadro, mas com certeza no futuro vamos contar com smart working”, diz ele que complementa que a modalidade não está relacionada a economia de recursos. “A Florense está auxiliando nos custos dos funcionários que estão em casa, especialmente com internet. Estamos fazendo uma recomposição de custos para a pessoa não ter nenhum prejuízo. Então, não é uma questão de economia, mas sim de eficiência”, resume.

Tendência pós-pandemia
O coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas, André Miceli, desenvolveu um estudo chamado ‘Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios’, no qual prevê um crescimento de 30% do home office no Brasil após a pandemia. O estudioso sugere que “líderes sejam encorajados a revisar seus processos internos, pensarem, testarem e compreenderem que a tecnologia é, cada vez mais, um ativo humano”.  Conforme o professor, diante desse novo cenário, torna-se necessário entender que o passado não é mais um guia para o futuro. “Talvez estejamos vivendo a tempestade perfeita, mas existe uma boa chance de que o tempo que virá após a crise seja virtuoso e repleto de boas notícias. Caberá aos empresários decidir como vão lidar com as suas carreiras e seus negócios”, enfatiza. 
Além da efetividade do home office, o coordenador destaca que essa nova modalidade também desafoga o trânsito e o transporte público.  “Você faz com que as pessoas tenham mais tempo para cuidar da saúde e que elas possam usufruir de coisas que lhes dão prazer sem que a empresa tenha redução das entregas e do faturamento”, afirma. 

No conforto de casa
Que o home office não é uma tendência passageira é fato e isso já tem sido assimilado pelas empresas. “Temos relatos de empresas, principalmente dos grandes centros, que já estão com projetos de flexibilização para que as pessoas continuem atuando em casa. E logo deve chegar a nossa região também”, destaca o presidente do Centro Empresarial, Alessandro Cavagnolli. Para ele, a modalidade abre as portas para um novo modelo de mercado. “Primeiro é o das empresas pensarem em uma forma diferente de trabalhar. Segundo, as pessoas estão vendo a necessidade de montar um local específico para trabalhar em casa. Assim, para os empreendimentos que fornecem esse material, abriu-se um mercado grande e que está tendo um consumo acentuado”, afirma.
Uma dessas empresas é a Baah Assessoria e Marketing, dos sócios Michelle Bebber e Diego Schiavenin. Desde março, eles têm atuado em home office e devem manter os negócios desse jeito.  De acordo com Michelle, a Baah nasceu em 2015 sendo um modelo de negócio home office, mas com a exigência do mercado e “um preconceito que se percebia na época”, optaram por alugar uma sala comercial e abrir um escritório. “O home office dá certo sim, porém precisa de muita disciplina e organização para que as tarefas sejam concluídas no prazo. Hoje, com as crianças em casa devido à pandemia, existe uma demanda de tarefas muito maior”, diz a administradora que possui dois filhos: Antônio, de um ano, e Isabelle, de oito.  
Para a empresa, nos últimos meses ocorreu uma diminuição nos gastos com combustível e alimentação.  “Essa ‘parada’ fez com que os olhares negativos para este modelo de trabalho mudasse. Uma nova fase está começando e com muitas mudanças, espero sim que possamos tirar algo de positivo desse ano, que está sendo tão difícil para todos”, pontua.

Empresas estudam possível mudança

Um novo modelo de trabalho pode assustar, mas as empresas locais já projetam um home office permanente.  Conforme o analista de pessoas da SAS Plastic, Alex Fiorentino, a empresa, que conta com 67 colaboradores, já estuda a mudança permanente de alguns funcionários para o sistema, principalmente para aqueles que já exercem trabalho externo. “Um exemplo disso são os vendedores, que quando não estavam visitando clientes externamente, precisavam estar na empresa. Porém, já estamos flexibilizando essa presença”, ressalta. Com a pandemia, a empresa teve a primeira experiência à distância também com a equipe administrativa. “O home office apresenta um bom resultado para o momento. A eficiência pode ser a mesma para algumas funções, porém depende de um planejamento e estratégias diferentes de trabalho”, enfatiza. Conforme Fiorentino, a SAS disponibilizou todo o material necessário para que os funcionários desempenhem a função à distância. Para ele, o home office também elimina gastos. “Mas ainda não houve uma avaliação concreta desses números para um comparativo. A principal economia está sendo no processo comercial, já que anteriormente os treinamentos eram todos presenciais e dependiam de deslocamento, o que gerava um custo alto com passagens e estadias. Hoje, estão sendo realizados treinamentos técnicos online através de plataformas digitais”, pontua. 
O JFM Contabilidade é outro negócio que estuda o trabalho em casa. De acordo com o diretor, Maico Vinícius Ferraz de Lima, a empresa trabalhou com 100% dos funcionários em home office de 19 de março a 30 de abril. Agora, eles cumprem a determinação do decreto do Estado. A JFM possui um quadro de 18 pessoas. “Não pensamos em manter a modalidade pós-pandemia, mas para certas situações especificas, como urgências, situações particulares de cada funcionário, pode ser que esta modalidade seja utilizada novamente. Ela funciona bem, mas nada como estar na sede do escritório com todo o material e equipamentos necessários para agilizar o trabalho, e a troca de ideias presencial entre colegas e com os clientes também é muito benéfica”, ressalta Lima, que complementa que a tendência é bastante forte. “Estaremos atentos para aderir se o cenário for favorável no que se refere a 100% dos documentos digitais e adaptação dos clientes a este sistema de atendimento à distância. Mas, é algo que eu vejo amadurecendo aos poucos”, afirma. 

A sócia da Baah, Michelle Beber, atua em casa desde março.  - Gabriela Fiorio
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