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Mais de seis mil estudantes em casa

Atividades escolares seguem online. Veja como os alunos estão lidando com esse ano letivo

O ensino escolar permanece à distância. Pelo menos até 1º de julho, os estudantes continuarão com estudos online. A retomada, divulgada pelo Governo do Estado, será feita em etapas e a última poderá ocorrer apenas em setembro. Até lá, direção, professores e estudantes têm se desdobrado para não perder o ano letivo. Em Flores, conforme dados da Secretaria da Educação, são 4.911 alunos nas escolas municipais, estaduais e na Apae. No Ensino Superior e Técnico somam-se mais 1.075 alunos e nas escolas particulares outros 662. No total, são mais de 6,6 mil estudantes em casa. A florense Júlia Machado da Silveira, 23 anos, que está no 11º semestre de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Caxias do Sul (UCS) tem encarado os estudos online de foram animadora, embora nunca tenha se imaginado nessa situação. “Nunca pensei em cursar Arquitetura à distância. Sempre foi um curso de muita necessidade presencial. Me surpreendi com os resultados que estamos obtendo e com o rendimento das aulas. Só o fato de não perder o semestre por conta do momento atual já é de grande valor”, afirma.

Neste semestre, ela não possui cadeira prática, o que facilita a modalidade à distância. “Mas, comparando como seria o presencial com o EAD, a cadeira de Projeto IV, por exemplo, exigiria que estivesse em constante trabalho com os professores. Presencialmente, isso era feito sempre de forma impressa para que os docentes pudessem fazer anotações e considerações em cima do trabalho, mas hoje estamos nos virando bem com o auxílio de ferramentas online para que isso ainda aconteça”, declara a estudante, que sente falta do convívio diário com professores e colegas.  “As aulas são gravadas, então, se em algum momento surge alguma dúvida, eu posso assistir o vídeo novamente. Outro ponto é que com essa modalidade eu ganho duas horas a mais no meu dia, que eu acabava perdendo no deslocamento”, conta.

A resiliência tem sido a palavra de ordem da estudante Bruna Salvador, 22 anos, que está no 10º semestre de Pedagogia na UCS. “Por mais que a gente viva conectado, tudo são novos desafios. Como estudante da área da educação e formação docente, estou fazendo uma disciplina sobre metodologias de ensino, e a nossa maior discussão é essa nova metodologia que estamos vivenciando hoje: não mais o contato com o professor dentro da sala de aula, mas sim o contato virtual. Este será o nosso futuro”, explica ela.

Segundo Bruna, as interações com os professores e o diálogo com os colegas são alguns pontos negativos deste processo, além de não ser tão democrático, pois não consegue atingir todos os alunos de uma mesma forma. “Mas temos que olhar o lado positivo. Neste período de frio, estudar no conforto de casa é muito bom, além da vantagem de poder fazer muitos cursos de extensão, que antes, presencialmente, não conseguia encaixar no meu tempo livre”, diz.

Medo de encarar o vestibular
Se os universitários estão encarando de forma positiva as mudanças, os estudantes que estão finalizando o Ensino Médio sentem angústia e medo. As principais são o vestibular e o Enem. “Com certeza é um tempo de incertezas e de mudanças de planos, onde está sendo preciso muito controle emocional para nos manter seguros em nossas casas, deixando a situação atual interferir o menos possível nos planos que tínhamos feito para esse último ano de escola”, relata a aluna Vanessa Faron, 17 anos, do 3º ano do Ensino Médio da Escola São Rafael. Para ela, o ensino à distância prejudica algumas decisões que são tomadas, como a escolha da futura profissão.

Para a estudante Ágatha Teodora Molon (foto acima), 17 anos, também do 3º ano do São Rafael, a troca de informações e a falta de convivência com colegas e professores têm sido um desafio. “Essa pausa interfere diretamente no aprendizado, e nós, alunos, nos sentimos um pouco desamparados. Sinto-me bastante prejudicada, pois no fim do ano terei Enem e vestibulares para prestar e não sei se estou preparada. Além de que esse seria um momento importantíssimo para a nossa decisão vocacional. É até difícil de falar o que quero, principalmente nesse momento, mas vou ficar entre Medicina e Direito”, diz.

O ensino à distância também tem sido um dos empecilhos da aluna do 3º ano da Escola Frei Caneca, Paola Reginato Vrezinski, 17 anos. “Os professores estão sendo muito prestativos para qualquer dúvida sobre os trabalhos passados, mas é difícil. Acredito que para todos os alunos que estão no 3º ano, a maior preocupação é que estamos perdendo conteúdos importantes para o Enem e vestibulares”, diz a jovem que pretende cursar Biomedicina. Para o estudante do 3º ano do Ensino Médio da Escola São Rafael, Júnior Port de Oliveira, 17 anos, a pandemia evidenciou a importância do trabalho do professor. “Agora os alunos perceberam a importância de encontrar os colegas, ouvir e ter o auxílio dos professores, de conviver no meio escolar. Estudos à distância necessitam de disciplina e estratégia, mas estudos na escola unem a comunidade escolar como um todo, ou seja, o aprendizado e a convivência é que desenvolvem valores e promovem debates de conhecimento”, diz.

Concentração redobrada
Para a estudante Isadora Cavalheiro Susin, que está no 8º ano, os estudos online exigem concentração redobrada e organização. “Nós nunca imaginamos que fossemos depender tanto da tecnologia. Os estudos a distância são realmente complicados e desafiadores. Me pergunto diariamente se tudo vai ficar bem e como vamos prosseguir com o restante do ano letivo. É angustiante o fato dessa pergunta não ter resposta, ao menos por agora”, relata. Para o aluno Luís Henrique Conz Prigol, do 9º ano, encarar a entrada para o Ensino Médio sem um ano de estudos presenciais tem sido o desafio. “Me preocupo com a nossa preparação para o Ensino Médio, etapa que com certeza apresenta diversas mudanças. Apesar de todos os esforços que estão sendo realizados, tanto por parte de professores, quanto pela parte dos alunos, não é possível obter o mesmo desempenho que possuímos na convivência escolar”, expõe. 

Preparação
Conforme a Secretária de Educação, Cultura e Desporto, Ana Paula Weber Zamboni, as aulas municipais permanecem iguais, através do portal da educação e também por meio do WhatsApp e dos aplicativos Google Classromm, Google Meet e Zoom. “Os professores da rede municipal devem cumprir sua carga horária em casa, fazendo o planejamento das aulas e diariamente tendo a interação com os alunos”, declara. Para alunos que não possuem acesso a internet, ocorre a entrega de atividades na escola. 

A Secretaria também está trabalhando com os protocolos para o retorno das aulas, assim que o Estado liberar, além da aquisição de EPIs. “Estamos implantando comitês para a organização dos protocolos de segurança em cada escola municipal, regrando o funcionamento de rotinas de higienização, ventilação dos ambientes, rearranjo das salas de aula para respeitar o distanciamento entre os alunos, escalonamento e organização de horários de entrada e saída, intervalos e almoço”, enfatiza.

O plano da retomada do ensino
Etapa 1 – iniciada em 1º de junho

A primeira etapa envolve apenas o ensino remoto, tanto na rede pública como na rede privada. O ensino remoto será na modalidade híbrida, com uso de tecnologia e com a disponibilização de materiais aos pais e responsáveis com dificuldade de acesso via internet. As aulas remotas são prioridade do plano de retomada e alicerce fundamental do modelo híbrido que será implementado.
Na rede pública, as aulas estão sendo oferecidas com o apoio da plataforma Classroom, do Google for Education.

Etapa 2 – 15 de junho
Para a segunda etapa, cujo início será em 15 de junho, estão previstas atividades de Ensino Superior, Pós-Graduação e Ensino Técnico Subsequente. A retomada será restrita ao estágio curricular obrigatório e às atividades práticas de ensino essenciais à conclusão de cursos, de pesquisa e em laboratórios. A estimativa é de que 41 mil alunos retornem às aulas nesta etapa.

Etapa 3 
Anúncio em 15 de junho para retomada em 1º de julho.

Etapa 4
Anúncio em 1º de julho para retomada em 3 de agosto.

Etapa 5
Anúncio em 3 de agosto para retomada em 1º de setembro.

A estudante Júlia Machado da Silveira cursa Arquitetura e Urbanismo e está se adaptando as aulas online. - Foto Gabriela Fiorio
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