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Moradores de loteamento reclamam da fumaça de curtumes

Famílias do Vista do Sol, em Flores da Cunha, montaram dossiê com série de documentos para oficializar queixas sobre poluição provocada por duas empresas. Prefeitura encaminhou demanda à Fepam. Confira em vídeo o depoimento de um morador

Cansados de sofrer com a emissão de fumaça e gases maucheirosos emitidos por dois curtumes da localidade de Nova Roma, e após mais de um ano tentando resolver a situação junto aos órgãos públicos responsáveis sem obter solução, moradores do loteamento Vista do Sol procuram o jornal O Florense para expor a situação. No dossiê que foi entregue no dia 22 de abril a cinco instituições (prefeitura de Flores da Cunha, Fundação Estadual de Proteção Ambiental – Fepam, Câmara de Vereadores, jornal e Ministério Público), o grupo apresenta uma série de registros que evidenciam os pedidos de ajuda feitos ao Departamento de Meio Ambiente da prefeitura e à Fepam, via protocolo desde maio de 2012.

Para entender o caso, nesta semana O Florense atendeu ao pedido dos moradores e participou de uma reunião que contou com a presença de 15 pessoas, representando os 102 moradores de 35 residências que assinaram um abaixo-assinado para pedir solução ao problema. Segundo eles, a população que reside no Vista do Sol e imediações não suporta mais o descaso das autoridades e, principalmente, das empresas. Além das reclamações protocoladas, em protesto a população fixou uma faixa na entrada do loteamento e colocou bandeiras pretas em frente às residências.

O motorista Jeferson Adriano Romitti, 24 anos, reside nas imediações há pelo menos 20 anos e relata que a fumaça vinda das chaminés dos curtumes sempre existiu, ou seja, esse não é um assunto que começou a ser debatido em 2012 ou quando o loteamento Vista do Sol foi construído, há cerca de cinco anos. Conforme o dossiê entregue às autoridades florenses, moradores da parte baixa da Rua Antonio Soldatelli relatam casos de crianças e idosos com sintomas e comprometimentos graves e crônicos em função da fumaça e afirmam que diversos abaixo-assinados foram realizados ao longo de 20 anos, sempre sem solução para o problema. “O cheiro da fumaça é insuportável. É um cheiro de pele queimada que eles devem queimar na caldeira. Às vezes vemos fumaça colorida”, relata o morador. “Não adianta fechar as janelas e ficar dentro de casa, pois o cheiro invade e fica até nas roupas”, completa a modelista Daiane Menegussi, 32 anos, que há quatro reside no local.

Frequência
De acordo com os moradores, as ocorrências são frequentes. As empresas mantêm as caldeiras em constante operação e a poluição é liberada diariamente, durante o dia e com maior intensidade de madrugada, horário que impossibilita o registro do fato por meio de fotos e vídeos. “Moramos aqui há um ano e oito meses. Lembro que na primeira noite que mudamos para cá acordamos assustados, pois achamos que a casa estava pegando fogo. Quando abrimos a janela percebemos que a fumaça vinha da rua. Depois descobrimos que era dos curtumes”, recorda o encarregado de setor Darci Gullich, 28 anos, que também relata problemas de saúde ocasionados na esposa, em virtude do contato diário com a fumaça.

A fumaça densa, além de prejudicar a saúde, atrapalhar o bem-estar da população e inclusive o trânsito nas imediações, deixa uma fuligem escura e gordurosa nas grades, venezianas e roupas estendidas nos varais. “No inverno, quando o tempo está úmido, a situação piora. Quando tem fumaça temos que ficar trancados dentro de casa, pois sentimos dor de garganta, ardência nos olhos e dor de cabeça. É difícil até de respirar”, explica o professor Jésus Reis Pereira, 43 anos, que há um ano e três meses enfrenta o problema no loteamento.

Os munícipes destacam que o objetivo deles é que as empresas regularizem o trato dos resíduos de acordo com as leis ambientais, de forma que a emissão de fumaça não prejudique mais a população. “Como contribuintes, esperamos que as autoridades resolvam nosso problema de uma vez por todas. Queremos ter uma convivência pacífica e humana com essas empresas. Esperamos que esses industriários ganhem o dinheiro deles, mas que seja de forma limpa e honesta, que não prejudique a nossa saúde e a nossa vida. Queremos apenas que esses curtumes cumpram a lei para que a gente possa voltar a respirar direito”, desabafa Pereira.

O que diz a prefeitura de Flores
Contatada pelo jornal O Florense, a diretora de Meio Ambiente da Secretaria de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Francieli Zorzi, informou que não sabia da situação dos moradores do loteamento Vista do Sol. Segundo ela, a antiga administração não repassou as reclamações feitas no ano passado. No dia 12 de abril ela recebeu um e-mail de uma das moradoras informando sobre a situação. A partir de então se iniciou novo diálogo com a população. A diretora afirma que após receber uma via do dossiê entregue pelos moradores, no dia 22, enviou um ofício ao chefe de gabinete da Fepam, Roberto Macagnan, informando-o do problema e cobrando uma resposta do órgão. “Solicitei que sejam tomadas as providências de imediato. Caso contrário, pediremos autorização para que o município possa intervir e fazer vistorias nos locais, em diversos horários, inclusive fora do horário comercial. Queremos resolver essa situação”, assegura Francieli.

O que dizem as empresas envolvidas
O jornal O Florense também contatou os dois curtumes de Nova Roma para saber o que está sendo feito para tentar resolver a situação. A empresa Peles Nova Roma manifestou-se por meio do seu responsável técnico, Pierry Henrique Goedtel. Segundo ele, no dia 1º de novembro de 2012 a indústria foi notificada pela Fepam, que solicitou que fosse colocado um equipamento de filtragem na caldeira, o qual fizesse a lavação dos gases. Em um segundo momento deveria apresentar um relatório fotográfico que comprovasse a instalação do mesmo, bem como um registro de operação diário, durante 30 dias úteis. “Recorremos dessa determinação, propondo a instalação de um soprador de ar na caldeira. Em março recebemos um ofício da Fepam informando que não aceitava nossa proposta e nos deu o prazo de 30 dias para a instalação de um filtro que garantisse a não emissão de materiais particulados para a área externa da empresa. Dessa forma, no dia 12 de abril adquirimos um lavador de gases. No dia 25 de abril esse equipamento foi encaminhado para uma melhoria e a instalação começará em 6 de maio. A previsão é de que em 20 de maio esse equipamento esteja instalado”, garante. Segundo ele, o material gerado nesse processo será encaminhado para uma central licenciada de recebimento de resíduos, a qual fará o descarte correto.

Quanto à alegação dos moradores de que os curtumes queimariam peles de animais e outros materiais tóxicos, Goedtel afirma que isso não é verídico. Conforme ele, o único material incinerado pela empresa a qual ele representa é o pinus. “A Peles Nova Roma está com todas as licenças de operação em dia e cumpre todas as exigências incutidas na Licença de Operação emitida pela Fepam. Primamos pelo bom andamento da empresa aliado ao meio ambiente. Tanto que estamos fazendo esse investimento porque prezamos o bom convívio com a vizinhança”, esclarece.

A reportagem tentou contato com o curtume Giacomet e Cia por telefone, mas não obteve retorno. Ao visitar o local na tarde de ontem, ninguém foi encontrado para comentar o caso.


Moradores apresentaram suas queixas ao jornal na noite de 23 de abril.

Moradores pedem o cumprimento da legislação ambiental e alegam que fumaça invade as residências, dificultando inclusive a respiração. - Mirian Spuldaro

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