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Os duradouros prejuízos do granizo em Otávio Rocha

Após 10 meses da chuva de pedra que atingiu o distrito de Flores da Cunha, agricultores tentam reverter perdas em suas propriedades

Quem mora em Flores da Cunha e não se lembra do forte granizo que devastou parreirais e plantações no dia 14 de dezembro de 2011? Além das perdas que puderam ser vistas à distância naquele mês, hoje a situação ainda não está normalizada e é lembrada todos os dias por algumas famílias, como a de Vani Molon, agricultor do distrito de Otávio Rocha. O jornal O Florense esteve na propriedade de Molon naquela trágica semana e mostrou a perda total da produção dos 3,5 hectares de parreiras das variedades Niágara e Bordô. No próximo domingo, dia 14, completam-se exatos 10 meses do fatídico dia que em pouco menos de meia hora a safra foi prejudicada quase que em sua totalidade.

As videiras que em dezembro, após o granizo, estavam praticamente secas e sem folhas, hoje estão verdes, porém, com uma produção mínima de uva. Alguns galhos nem chegaram a brotar. Vani Molon conta que as gemas danificadas pela intempérie apresentam pouco ou nada de cachos em formação. As gemas que estavam na parte inferior do galho, e que não foram atingidas diretamente pelas pedras de gelo, conseguiram brotar com mais força e formaram algumas bagas. “A gema está machucada assim como os galhos. A situação é muito diferente da que tínhamos neste mesmo período no ano passando, quando os cachos em formação eram vastos e podiam ser vistos de longe. Hoje precisamos olhar bem para ver onde eles estão. Nisso se resume nossa safra de 2013, onde teremos produção de apenas 10% a 15% dos vinhedos”, lamenta Molon.

Após a chuva, a família cuidou das parreiras fazendo sessões de tratamento para a cicatrização dos galhos. No período da safra, onde antes eram produzidos 50 mil litros de vinho, além de 15 mil quilos de uva vendidos in natura, a família Molon conseguiu produzir 3 mil litros de vinho, situação que não deve ser muito diferente no início do próximo ano. “Embora olhando para as parreiras elas estejam verdes, muitos galhos então prejudicados por dentro, é só soprar um vento e eles quebram. Notamos que a parreira brotou em locais não comuns, ou seja, são galhos impróprios para a produção de uva. Por esse motivo não teremos uma produção muito diferente da que vimos na última safra. Quem sabe em 2014 poderemos ter algum avanço”, projeta.

Além dos tratamentos para cicatrização, Molon fez, com orientação técnica, adubações mais intensas buscando fortalecer as plantas. A poda foi feita de maneira específica para aproveitar os antigos galhos e ganhar novos ramos para a próxima safra.

Força para se manter
As dificuldades de manter um negócio na agricultura são variadas, mas para os produtores, sem dúvida, o clima pode ser o maior vilão. O alto custo de uma produção de uvas contrasta com o baixo preço mínimo e os enormes estoques de vinho no país. O desânimo demonstrado por Vani Molon em dezembro ainda existe, mas a coragem e esperança fazem com que a família permaneça fazendo o trabalho na agricultura e enfrentando as dificuldades. Amanhã, dia 12 de outubro, Molon comemora seus 48 anos de idade. “Estamos levando com calma. Temos a dúvida se essa safra irá pagar pelo menos os tratamentos investidos no decorrer do ano. O cuidado está sendo feito, mas com o mínimo possível de custos já que o retorno poderá vir daqui a pelo menos dois anos”, lamenta o agricultor de Otávio Rocha, que aprendeu a trabalhar na terra com os pais.

Em dezembro de 2011 a família de Molon perdeu 100% da produção e não contava com seguro agrícola. Neste ano, o seguro foi feito dando certa garantia ao final de cada safra, mas não descartando o medo de investir no solo. Para Molon, também faltou auxílio por porte dos poderes públicos. Apesar dos levantamentos e tentativas, nada foi concretizado. “Nos sentimos desvalorizados. Tivemos inúmeros encontros, porém, sem retornos reais”, lembra Molon.

Crítica
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, também lembra o retorno inexistente por parte dos governos estadual e federal. O STR, por meio de seus associados, desenvolveu os levantamentos dos prejuízos. “Tivemos retornos do governo, mas infelizmente eles foram negativos. Foi solicitado para a Defesa Civil decreto de situação de emergência que não foi aceito. Eles alegaram questões como o Produto Interno Bruto (PIB), a renda da região, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e uma série de outras coisas. Para receber qualquer benefício em forma de crédito especial precisamos do decreto de emergência. O público não dá nada ao privado, e nem pode, mas o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, postergou nossa situação e, no final, após várias audiências, quando fizemos nossa parte, não nos deu retorno positivo”, critica Schiavenin.

De acordo com o sindicalista, a situação das parreiras varia de acordo com o quanto cada propriedade foi afetada. “Claro que a safra não será normal. Brotaram menos gemas, consequentemente menos galhos, e esses estão fracos, pois a planta sofreu e ainda está debilitada. Tudo depende de como as parreiras foram podadas e tratadas, por isso está cedo para se concluir porcentagens. Sempre vai dar quebra, mas não se tem ainda parâmetros para estimar quanto vai ser”, acredita Schiavenin.

Novo susto em meados de setembro
Agravando a sensibilidade das parreiras e também a preocupação dos agricultores, o temporal que causou prejuízos em casas e estradas no dia 19 de setembro levou granizo novamente para Otávio Rocha. As famílias que ainda se recuperam do fato histórico de 2011 acordaram vendo galhos e folhas quebrados e retorcidos pela chuva de pedras e pelos ventos registrados naquela noite. Os vinhedos de Vani Molon fazem parte dessas propriedades. Segundo ele, mais de 10% da produção dessa safra foi perdida. “Tivemos a visita do seguro e pudemos constatar essa perda, temos muitas folhas danificadas. É desanimador pensar que estamos apenas no início de um ciclo muito importante para a parreira e temos essa vulnerabilidade no tempo. Cada chuva que se aproxima nos deixa com os olhos atentos e preocupados, olhando para o céu”, relata o agricultor.

Tendência é de primavera chuvosa
Para o segundo semestre de 2012 o Rio Grande do Sul poderá sofrer as consequências do fenômeno El Niño, o que indica uma primavera de chuvas na categoria acima da normal (45%). As temperaturas previstas devem variar dentro do padrão climatológico, ressaltando que ainda podem ocorrer passagens de massas de ar frio e declínio das temperaturas durante a primavera, segundo o Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS).
Após 10 meses, o agricultor Vani Molon ainda calcula os prejuízos - Camila Baggio
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