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Pais e professores atentos a Içami Tiba

Em entrevista ao O Florense, Içami Tiba, que palestrou para mais de duas mil pessoas no salão paroquial, salientou a importância de os pais estabelecerem disciplina e responsabilidade aos filhos

Poucos palestrantes são recebidos com o público de pé e sob aplausos. Foi o que aconteceu com o médico psiquiatra Içami Tiba na segunda-feira, dia 27, no salão paroquial. Durante uma hora e meia, ele falou para cerca de 2,3 mil pessoas durante o 2° Fórum Educacional Regional, evento já consolidado em Flores da Cunha e que teve pleno êxito, segundo a secretária de Educação Claudete Gaio Conte. Entre os temas abordados por Içami estiveram a educação, o exemplo e os limites às crianças e aos adolescentes.

Antes de sua palestra no salão paroquial, Içami Tiba recebeu a reportagem do O Florense para uma entrevista. Mesmo chegando com 50 minutos de atraso devido a problemas no vôo, o psiquiatra foi atencioso e respondeu a todas as perguntas. Confira:


O Florense: O problema das drogas assola todo o país. Em Flores da Cunha não é diferente, jovens e até crianças estão se tornando usuários. Quem ou o que seria o causador desse grande problema?
Içami Tiba:
O que eu vou falar agora pode revoltar muitos pais. Eu acho que nós formamos nossos filhos para que eles usem drogas. Cada vez que as crianças começam a manifestar suas vontades os pais ensinam o que deve ser feito, e se os filhos não fizerem eles ensinam outra vez, ao invés de exigirem que eles cumpram o que aprenderam. Aí, como nada lhe acontece, e tem outra lição à disposição, os filhos só fazem o que têm vontade e não o que devem fazer. Mais tarde, quando começam a escolher, basta fazer birra que os filhos conseguem. Então, fica o reino da vontade sobre o reino da razão. É como se dessem um carro para quem não tem condições de dirigir. Daí o filho dirige e bate o carro e, ao invés dos pais aproveitarem a oportunidade para ensinar e cobrar responsabilidade, dão outro carro. Com isso, o filho fica muito hedônico, ou seja, só faz o que tem prazer, se não gostar, não faz. Em geral, as pessoas que não assumem responsabilidades, quando pegam as drogas não largam. Então, quando eu falo que os pais educam os filhos para isso é porque os filhos acabam respondendo aos pais que eles usam drogas porque é bom, porque é prazeroso. Os pais erram porque são muito permissivos, não estabelecem disciplina, responsabilidade, cidadania. O filho chega em casa, joga as coisas e quem arruma são os pais. Então, ele não tem cidadania familiar, que é manter limpo pelo menos o lugar que ele vive.

O Florense: Em uma entrevista a uma revista nacional, o senhor afirmou que “amor demais estraga”. É isso mesmo?
Içami:
Na verdade, não é amor demais. É amor sem consequências, amor permissivo. Uma gentil poupança do filho, sem levar em conta a meritocracia. Um exemplo: Ele tem dois filhos, um que merece e outro que não merece. Daí ele dá o mesmo prêmio para os dois, porque são filhos. Isso está errado. O pai tem a obrigação de preparar seus filhos para a vida. O filho vai ter que ter autonomia comportamental (fazer as próprias escolhas), independência financeira, arcar com os custos do que ele quer fazer e ter responsabilidade social. Ele não pode fazer na sociedade o que ele faz em casa. É isso que eu chamo de cidadania familiar. Quem não cumpre isso em casa vai para o social e vai querer reinar. Os pais amam os filhos de uma maneira que não aplicam regras porque na cabeça deles isso traumatiza os filhos. Muito pior é o filho ir para a vida achando que pode fazer o que quiser, que nada lhe acontece.

O Florense: Palmada resolve?
Içami:
Eu sou contra as palmadas e contra essa lei (projeto de lei em análise em Brasília). Sou contra porque isso indica que o adulto perdeu a competência de educar, partindo para a violência, como se isso educasse. A violência ensina violência. O jovem vai para a rua, não consegue resolver alguma coisa e parte para a violência. E o governo o que faz? Ao considerar ilegal bater, considerar crime uma postura que a maioria dos pais têm, criou essa lei, que foi uma palmada nos pais. Mas faltou ensinar o caminho para educar sem utilizar a violência. Os recursos financeiros aplicados em uma lei dessas deveriam ter sido utilizados para fazer uma campanha educacional que mudasse, de fato, o comportamento dos pais.

O Florense: O senhor concorda que um jovem com menos de 16 anos trabalhe?
Içami:
Se o filho trabalha porque o pai é um chefe aí está errado. Agora, se o filho trabalha porque o pai é um líder, aí está certo. A diferença é que o trabalho deve ser estimulado, pois ele também pode ensinar. O que não pode é substituir o trabalho pelos estudos. O chefe quer que o seu funcionário trabalhe para trazer dinheiro para a empresa. Já o líder quer que o seu liderado faça o melhor trabalho para a empresa, para ele e para o Brasil.

O Florense: Os pais preocupam-se muito com a influência da internet. Como lidar com isso?
Içami:
Considero que a falta de educação predispõe ao uso indevido de muitas coisas, como internet, drogas e sexo. No caso da internet, existem conteúdos proibidos para menores de 18 anos e se o adolescente tiver consciência de que não pode entrar ele não entrará. A diferença não está na oferta. As drogas, por exemplo, sempre existirão, mas cabe às famílias ensinar que é errado usar. Por isso, eu batalho firme na educação. O jeito é preparar melhor os educadores, pais e professores.

O Florense: Então, na sua opinião, é possível o professor fazer com que o aluno seja disciplinado e, ao mesmo tempo, ser seu amigo?
Içami:
Não precisa ser amigo. Por exemplo, o pai se perde quando ele diz para seu filho: eu sou seu melhor amigo. Os filhos precisam de pai e não de amigo. Amigo ele escolhe. Ou também, o professor não é amigo do aluno. Eles podem ter um bom relacionamento, mas beber cerveja juntos, por exemplo, não considero correto. Não combina.

O Florense: De maneira geral, quais são hoje os grandes problemas na educação das crianças?
Içami:
Hoje parece que os pais estão sendo despedidos da função de pais. Acho que está faltando os pais se prepararem mais para reassumir esse posto. O que está faltando é consciência. Eles têm boa vontade, mas não têm alta performance. Os pais têm muito a melhorar se colocarem a educação como prioridade. Por exemplo, se o pai levar a eleição a sério, o filho também vai levar. Mas se o pai votar em um Tiririca da Vida, está ensinando o filho a badernar e não a votar.


Prefeito Ernani Heberle entregou vinhos ao palestrante.




Cerca de 2,3 mil pessoas assistiram palestra do médico-psiquiatra. - Andréia Debon
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