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Prevenir a Dengue: uma responsabilidade de todos

Agentes de combate as endemias de Flores da Cunha contam com o apoio da comunidade para afastar o risco da doença

Mal teve início uma certa estabilidade no cenário da pandemia de Covid-19 e voltamos a nos preocupar com outra doença de circulação viral: a Dengue. Devido ao aumento nos casos de pessoas contaminadas, a Secretaria da Saúde do RS emitiu, no fim do mês de março, um alerta epidemiológico para a situação crítica do estado, que registrou, até o dia 25, 2.252 casos confirmados de dengue, entre eles 2.031 autóctones (contraídos no próprio território de residência). As regiões mais críticas são as pertencentes às Coordenadorias Regionais de Saúde de Porto Alegre, Frederico Westphalen e Lajeado. 
Até o fechamento desta edição Flores da Cunha apresentava um caso importado da doença, tratando-se de uma mulher que viajou recentemente para Santa Catarina e veio ao município com o diagnóstico catarinense. “A preocupação das agentes é que essa paciente não seja picada pela fêmea do aedes aegypti, porque se o mosquito depois picar outra pessoa teremos a possibilidade de ter a doença aqui. Por isso, fizemos um monitoramento da quadra onde ela mora e orientamos para que não venha a ser uma transmissora”, explica a secretária municipal de Saúde, Jane Paula Baggio, ao mesmo tempo em que esclarece que o município não tem casos de dengue, e sim um caso importado, o que é diferente de um comunitário, no qual a pessoa pega a doença na cidade.
Ela também revela que Flores da Cunha é considerada infestada pelo mosquito aedes aegypti, mas que isso não significa que tenhamos a doença, uma vez que temos o vetor, e não a dengue: “Temos o mosquito, mas não a doença. O aedes é o vetor, ele leva a dengue. A transmissão ocorre quando o  inseto pica a pessoa que está contaminada com o vírus da dengue, então ele vai se contaminar e, quando for picar outra pessoa vai transmitir o vírus que pegou do ser humano. Assim inicia um ciclo de circulação viral, por isso a nossa preocupação que o caso importado não seja picado por nenhum mosquito aedes que nós temos no nosso município”.
A rápida proliferação do inseto contaminado, de acordo com Jane, se deve ao fato de que é a fêmea sempre quem pica – o macho se alimenta de restos de alimentos – e quando ela for colocar os ovos, eles já vão nascer contaminados. 
Um fator que pode auxiliar no combate da dengue é a chegada do frio, uma vez que o mosquito se prolifera com mais intensidade durante as estações mais quentes do ano. Contudo, a secretária reforça que quando caem as temperaturas as medidas de controle podem ser mais eficazes e devem permanecer, já que o ciclo reprodutivo do aedes fica mais lento e as ações voltadas para o combate terão um impacto maior. Por isso, ela frisa a importância de manter os cuidados mesmo com a chegada da nova estação. 
Em relação aos principais sintomas da doença, Jane revela que eles são bastante semelhantes aos da Covid-19 e da gripe, sendo importante buscar ajuda especializada em casos suspeitos: “Já que essas doenças são causadas por diferentes vírus e podem ter alguns sintomas semelhantes, se faz necessária a avaliação dos profissionais da saúde e o atendimento médico para auxiliar no diagnóstico correto”. A secretária também elenca alguns dos principais sintomas de dengue, tais como: febre alta de início súbito, dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo.
Jane enfatiza, ainda, a importância da mobilização que tem sido feita junto às escolas e, cita como exemplo, uma ação do Programa Saúde na Escola, no bairro União, na qual a equipe das agentes comunitárias de saúde, do posto de saúde, e as agentes de combate as endemias foram à instituição para orientar os alunos: “As crianças disseminam informação, elas chegam em casa e conseguem ajudar. Por isso, as ações com as escolas devem ter continuidade, uma vez que as crianças ficam empolgadas. A gente planta uma semente quando fala com elas, e a chance dessa semente depois dar um fruto é muito grande”, enaltece.
Dessa forma, se cada um cuidar da sua residência, juntos, vamos conseguir combater o mosquito. “Eu acho que a gente tem que fazer um apelo para a comunidade, convidar as pessoas a tirarem 10 minutos, não precisa mais do que isso, toda a semana, para olhar a sua residência, o seu imóvel, é uma chamada para trazer a comunidade para olhar para a sua casa, para o seu comércio, olharem a sua plantinha na loja. O município não tem a capacidade de estar todos os dias em todas as residências, então temos que convidar a comunidade a dividir essa responsabilidade, porque todos nós somos responsáveis. Estamos saindo de uma pandemia e temos um risco grande, como várias cidades que têm diversos casos de dengue”, frisa Jane, que conclui ressaltando que deseja que os munícipes sejam atores da situação, que contribuam para eliminar o maior número de focos do aedes, porque quanto menos mosquito tivermos, menores serão as chances de termos a doença.


Orientar para conscientizar  
Os grandes aliados na tarefa de eliminar o mosquito aedes aegypti são os agentes de combate as endemias. A principal função exercida por eles é a realização de visitas às residências, a partir de um cronograma que inclui  mapa separado por bairros e quadras numeradas, para facilitar a organização. 
Esse trabalho foi paralisado em alguns períodos durante a pandemia de Covid-19, mas, ainda no início desse ano, mesmo com os casos de janeiro e fevereiro, o calendário segue normal, com uma média diária de 25 imóveis visitados pelas duas agentes do município. 
De acordo com a agente de combate as endemias, Roberta Sampaio Pivotto, o principal intuito dessas ações é o de orientar para esclarecer possíveis dúvidas da comunidade sobre a dengue. “Não tentamos reprimir eles, nem ser punitivas, as visitas são orientativas. No primeiro momento sempre tentamos conversar, pedimos para entrar no pátio, mas nem sempre as pessoas deixam. Às vezes tem cachorro, pedimos se ele morde ou se tem como prendê-lo, as pessoas ficam um pouco desconfiadas, acabam dizendo que o cachorro morde e não prendem. Então não temos como entrar, é claro que teríamos que ir, mas, é um risco para nós”, desabafa Roberta, a respeito de algumas das dificuldades enfrentadas. 
Sobre isso, ela também esclarece que as agentes estão sempre uniformizadas, com carro, crachá, uniforme, e que, se alguém ficar com alguma dúvida, pode ligar para a Secretaria Municipal da Saúde e solicitar esse tipo de informação, para ter a confirmação e poder colaborar abrindo as portas da residência para visitação, bem como ouvindo e colocando as orientações em prática que, conforme Roberta, é a parte mais difícil. 
Segundo a também agente de combate as endemias, Jucerlei Cigognini, a dupla faz o possível para realizar, ao menos, duas visitas por ano em cada residência, nas quais verifica se há possíveis focos ou criadouros do mosquito e informa as pessoas, caso tenha alguma coisa de errada no imóvel. 
“A orientação principal é eliminar a água parada, por exemplo, no caso dos pratinhos se estão em área que não é coberta falamos para que eles eliminem, porque não tem necessidade, agora quando for dentro, que é necessário ter, dizemos para que coloquem areia, que então é impossível o mosquito se reproduzir ali. Isso porque, como teria que lavar toda a semana o pratinho para tirar aquela matéria orgânica que fica, as pessoas acabam não tendo esse hábito, elas acham que apenas deixar seco é o suficiente”, enfatiza Jucerlei.
Em relação aos locais que a dupla mais encontra água parada, além dos vasos de plantas, ela cita os pneus, as caixas d’água, e os ralos externos. Para o descarte dos pneus, a melhor alternativa é destiná-los aos responsáveis pelo recolhimento, como é o caso das borracharias, mas, se as pessoas não tiverem como entregar diretamente, podem conversar com as agentes que elas mesmas levam ao local e encaminham parava destinação correta.  
“Nas caixas d’água o pessoal recolhe bastante água das chuvas, é aquela questão de querer economizar água, com as cisternas, mas tem que ter uma responsabilidade em cima disso, pode ter, mas da forma correta, com um cobertinho, fechada ou telada. Muitas pessoas também armazenam em baldes, nesses casos eles também devem ficar cobertos, pois, se abertos por mais de cinco dias, facilitam a proliferação do mosquito, uma vez que o aedes tem um ciclo muito rápido e em sete ou oito dias, no máximo, já é adulto”, explica Jucerlei, acrescentando que outra opção é tratar a água armazenada com água sanitária, no entanto, para quem deseja utilizá-la para regar as plantas, flores ou horta – que não é recomendada a utilização do produto – o ideal é cobrir o recipiente ou fazer uso antes do período de cinco dias. 
Mas, a sugestão da utilização da água sanitária é perfeita para os ralos externos, neles, a orientação é que se aplique semanalmente. Isso porque quando chove esses locais acumulam água e essa água limpa, logo após a chuva, é o melhor hábitat para o mosquito se reproduzir. “Tem que aplicar uma vez por semana, tem gente que aplica, mas não semanalmente, aí não adianta”, frisa a agente, que também informa que os ralos mais novos, os quais podem permanecer fechados, também são uma ótima medida preventiva. 
Em relação aos terrenos baldios, ou ainda, imóveis com vegetação que se encontram a venda e com aspecto de abandono, Jucerlei explica que no momento em que estão percorrendo uma determinada quadra – estabelecida pelo cronograma – caso encontrem algum local nessas condições e o mesmo estiver aberto, elas verificam se há algum possível foco do aedes e eliminam. “Quando for fechado, se achamos que tem um foco, tentamos descobrir quem é o proprietário para poder falar com ele e tomar as providências. A prefeitura sabe quem é o proprietário, então a secretaria – que é bem colaborativa em relação a isso – nos passa essa informação para que possamos entrar em contato e tentar investigar e eliminar esses possíveis focos”, enaltece.   
A agente também revela que, por vezes, as pessoas ligam denunciando alguns endereços que acreditam ter possíveis foco do aedes, nessas situações, elas fazem o possível para ir ao local o quanto antes e verificar se realmente se trata de um foco.  
“Vamos orientar porque precisamos da ajuda da comunidade. É um trabalho conjunto, porque é bem difícil eliminar esse mosquito, e com a ajuda das pessoas, vamos conseguir. Afinal, a melhor forma de acabar com a dengue é a prevenção, é eliminando o foco”, finaliza Jucerlei, contando com o apoio dos florenses. 
 

Alguns cuidados para evitar a proliferação do Aedes Aegypti

- Não acumule lixo nos pátios e nem jogue lixo nas vias públicas ou em terrenos baldios;
- Mantenha as lixeiras fechadas e os ralos limpos, fechados ou com telas;
- Mantenha os reservatórios de captação da água da chuva sempre fechados;
- Evite manter prato nos vasos de plantas, caso seja necessário, inspecione semanalmente (para vasos externos, o ideal é que não possuam pratos. Nas áreas internas, pode ser colocado areia no prato);
- Lave os potes de água e comida do seu animal de estimação com escovas, água e sabão, esfregando bem nas bordas;
- Inspecione e mantenha limpas as calhas de sua residência, para que elas não represem água;
- As piscinas em período de uso devem receber tratamento adequado com cloro;
- Para as piscinas sem uso frequente, cobrir com capa ou tela de proteção e manter o tratamento com cloro;
- Retire a água acumulada atrás da máquina de lavar roupas, geladeira e ar-condicionado;
- Atenção com bromélia, babosa e outras plantas que podem acumular água;
- As lonas usadas para cobrir objetos devem estar bem esticadas, para evitar formação de poças d’água;
- Não deixe pneus, garrafas, potes, baldes ou recipientes que possam acumular água da chuva em áreas abertas, eles comumente são focos do Aedes Aegypti.

As agentes de combate as endemias, Jucerlei Cigognini e Roberta Sampaio Pivotto, em visita às residências. - Karine Bergozza
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