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Rua Borges de Medeiros: a rua do cinema

Cine Central, que teve como último proprietário Hilário Sgarioni, ficava localizado onde hoje está o Banco Bradesco

Por muitos anos o município de Flores da Cunha contou com a presença de um cinema para alegrar os finais de semana dos munícipes. O estabelecimento ficava localizado na Rua Borges de Medeiros, onde hoje encontramos o Banco Bradesco. De início o empreendimento pertencia à sociedade Pró-Trento, mas, com a dissolução da mesma, a Paróquia de Nova Trento seguiu como única proprietária do referido prédio e terreno.
O cinema passou pela gestão de muitos empreendedores, entre eles estão os florenses: Orestes Pradella e Hilário Sgarioni. Segundo o livro “Memórias de um Neto de Imigrantes Italianos”, do autor Claudino Antonio Boscatto, no início da década de 1940 o cinema foi alugado para Orestes Pradella, que mais tarde arrematou o espaço, se tornando o único proprietário. 
Com o passar dos anos, o estabelecimento feito de madeira, no estilo de um galpão, foi comprado pelo genro de Pradella, Hilário Sgarioni, que reformou o Cine Central. “O antigo cinema tinha tela pequena, e passou a ter tela grande. Já as cadeiras de palha foram substituídas por poltronas estofadas, tinha 600 poltronas e camarote”, relembra Sgarioni.
Nessa época o cinema era a única atração que havia na cidade. “O pessoal vinha bastante para o cinema, algumas vezes tinha que fazer três sessões, começava sexta, sábado e domingo. As pessoas do interior vinham porque não havia outra coisa. Sempre aos finais de semana e nas quartas-feiras, que é o dia de namorar”, conta o florense, lembrando que os filmes brasileiros, Mazzaropi e Teixerinha, eram o chodó e precisava ter três sessões para que todos pudessem assistir. “Tinha filmes muito bons, mas era obrigado a ter no mínimo dois filmes brasileiros por mês para exibir, era lei, o resto não tinha problema nenhum”, informa.
Como os filmes que eram exibidos precisavam ser retirados em Porto Alegre, para facilitar o serviço, Hilário trabalhava junto com outros quatro cinemas de Caxias do Sul, que enviavam os rolos com os filmes, de aço, por ônibus. “Vinha tudo de ônibus, embarcava no ônibus lá em Caxias e parava aqui na rodoviária e eu pegava - a rodoviária era do meu pai. Depois, na segunda-feira, colocava no ônibus e ele ia para Caxias, lá alguém pegava”, relata Sgarioni, recordando que isso era um problema, pois, muitas vezes, acabava atrasando e criando uma fila enorme de pessoas esperando o filme chegar.
No meio das exibições era preciso acender as luzes para trocar o rolo em outro projetor. “Os namorados aproveitavam a escuridão para se abraçar. Naquela época não era como é hoje, era reservado, então quando acendia a luz o pessoal ficava tudo quietinho, largava até a mão da menina”, brinca Hilário. 
Segundo o florense, essa era uma época em que o cinema lotava, reunia em torno de 500 a 600 pessoas por sessão, mas, com a chegada da televisão as coisas mudaram e o cinema fechou. Após o termino das atividades, o local foi reformado e instalada a loja de eletrodomésticos Arno e, só depois, o Banco Bradesco.
Ainda conforme o livro “Memórias de um Neto de Imigrantes Italianos”, o local que abrigou o cinema foi erguido por volta do ano de 1910, com o aproveitamento da madeira da antiga Igreja Matriz, que havia sido demolida para a construção da atual. Mas, as projeções de filmes com cenas mudas só começaram a ocorrer em 1920, nessa época não existia energia elétrica por aqui e o fornecimento da mesma era feito por um pequeno motor de propriedade de Alexandre Micheletto.

Hilário Sgarioni mostra as imagens do cinema que ele administrou.  - Karine Bergozza
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