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Um chamado a Santiago de Compostela

Ivone Maria Bolzan percorreu o caminho na Espanha em 2016 e este ano pretende retornar para fazer outro trajeto

Imagine um lugar onde se encontram pessoas de todos os lugares do mundo. O objetivo é a fé, a introspecção e o encontro espiritual. Santiago de Compostela, na Espanha, é uma das cidades de peregrinação cristã mais importante do mundo, atrás apenas de Roma (Itália) e Jerusalém (Israel).

Este foi o destino que a florense Ivone Maria Bolzan escolheu em 2016 pela primeira vez e pretende repetir a experiência neste ano. “Um chamado que sabemos o que é, quando queremos uma experiência transformadora. Não é descanso nem turismo, é praticamente um caminho de meditação”, conta a peregrina. A vontade em participar de caminhadas, rústicas e trilhas começou quando ela se desafiou em uma corrida em Caxias do Sul e acabou sendo a primeira colocada na sua categoria. “Foi um incentivo, além do período em que estava vivendo, de maior cuidado com a saúde e foco nas atividades”, destaca. Ela então participou algumas edições da caminhada de São Tiago de Mato Perso, em Flores da Cunha, e teve a certeza que era isso o que procurava: conhecer novas pessoas, caminhar e refletir em meio a natureza.

Foi então que em maio de 2016 fez o Caminho Central Português para Santiago de Compostela. “Vivenciei cada momento sozinha e saí da cidade do Porto, em Portugal, seguindo até Santiago. Fiz uma média de 25km por dia sem fazer uma bolha nos pés. Um milagre para quem não tinha experiência em peregrinações.” As rotas são feitas por meio dos caminhos francês, português, do Norte ou Finisterra (Muxía). Todos eles levam ao destino final, que a Catedral de Santiago, com a fachada barroca que abriga o túmulo de Santiago Maior, um dos apóstolos de Jesus.

Com uma passada média de 72cm, ela percorreu 260km a pé em 14 dias, passando por caminhos medievais e pontes edificadas no Século 6, dormindo em albergues e peregrinando de forma contemplativa.

Durante o percurso, as pessoas param nos lugares cadastrados para carimbar uma espécie de passaporte para ao final do trecho receber a Compotelana, um documento que certifica o trajeto percorrido.

Vida e vivências

“Olho para trás e gosto do que vejo. Olho para frente e sinto que posso fazer ainda mais”, diz Ivone, convicta sobre sua trajetória e as escolhas que fez na vida. Ela carrega suas vivências em um espírito muito jovem, mas que ainda se reconhece na filha mais nova de Zulmira e Alcides, sempre estudiosa e trabalhadora. Formou-se Técnica Comercial no Colégio São Carlos ainda no ensino médio e entrou na faculdade de Direito aos 16 anos. “Tudo era com muita dificuldade, não havia subsídios públicos e eu já trabalhava para pagar a faculdade, o que muitas vezes não bastava. Mas fiz tudo com muita competência e integridade.” Foi a primeira mulher formada em Direito em Flores da Cunha, assim como a primeira empresária de serviços contábeis. Fez pós-graduação em Contabilidade e anos depois em Contabilidade Gerencial.

Aos 33 anos foi selecionada para um estágio na multinacional Timex, em Portugal, onde morou e trabalhou durante três meses. Lecionou na Escola São Rafael a disciplina de Contabilidade durante 25 anos, e também na FSG, quando esta foi fundada. “O ofício de professora foi um dos mais gratificantes da minha vida. E foram muitas noites estudando e fechando balanços para dar conta das aulas e do escritório, mas tudo foram conquistas”, destaca, falando que ainda sente orgulho quando encontra ex-alunos. O sonho da sua vida era ter uma família, realizado com o nascimento do filho Leopoldo Mateus, hoje com 29 anos.

Após cumpridos seus objetivos profissionais entre os números, Ivone fez curso de Feng Shui Clássico (Ciência Natural de Harmonização de Ambientes) e então começou a participar de rústicas e trilhas, até as peregrinações. Atualmente, ela advoga, faz projetos de harmonização e se dedica à fotografia.

Para 2017, pretende fazer novamente a peregrinação a Santiago de Compostela, com alteração de roteiro. Em Flores da Cunha assumiu o desafio de ser presidente do Conselho Municipal do Idoso e está em produção de escrever um livro sobre a família Bolzan, pesquisa que irá finalizar na Itália. Outra publicação que ela pretende assinar é sobre as suas vivências e a experiência proporcionada por peregrinações individuais. São muitos desafios e muita energia para uma mulher que dispõe de coragem e confiança. “Todos temos nossa história, e quando objetivamos evoluir na vida, nada impede a conquista. Requer muito estudo, trabalho e até renúncias. Fazer boas escolhas e cultivá-las. Basta querer.”

 

Escultura ‘O Peregrino’ no Albergue Municipal de Valga, na Galícia. - Arquivo Pessoal/Divulgação Ivone durante a peregrinação. - Arquivo Pessoal/Divulgação Ivone com lembranças da caminhada em Compostela. - Larissa Verdi/O Florense
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