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Um gigante eternizado

Restaurado e requalificado, Campanário volta a fazer parte do dia a dia da comunidade florense. Inauguração ocorre no próximo sábado, dia 11, às 20h

Desde junho de 2022 Flores da Cunha está adormecida. Não é possível encantar-se com o badalar dos sinos, tampouco atentar para os alto-falantes que anunciam falecimentos e festividades. Ponteiros parados nos enganam e impedem de consultarmos as horas. Andaimes e telas encobrem nosso gigante e não nos permitem admirá-lo da mesma forma que fazíamos. Mas a espera está acabando: o Campanário, símbolo da cultura, trabalho e religiosidade do imigrante italiano, será devolvido à comunidade florense. No próximo sábado, dia 11, os sinos voltarão a badalar, os ponteiros se movimentarão e os andaimes e telas sairão de cena para exibir o imponente de 55 metros de altura. 
Nesses nove meses o patrimônio, tombado em âmbito municipal em 2019, passou por um processo de restauro e requalificação para continuar representando a identidade de Flores da Cunha. “Foi realizada a recuperação das juntas da estrutura murária (paredes) e impermeabilização da cobertura e cimalhas (moldura nas paredes) a fim de sanar as infiltrações. Realizou-se limpeza externa das fachadas, removendo infestação vegetal existente. Mostradores dos relógios e peças da estrutura sineira também foram restaurados, pois contavam com patologias de oxidação e corrosão de peças metálicas”, explica o arquiteto da Arquium Construções e Restauro, empresa responsável pela execução da obra, Bruno Walter da Luz, acerca do processo de restauro. 
No que diz respeito à requalificação, ele esclarece que foram realizadas instalações elétricas e de iluminação, interna e externa, conforme legislação vigente e para evitar incêndios e demais acidentes (incluindo a criação do Sistema de Proteção de Descargas Atmosféricas). “Foram instalados sistemas de programação e controle dos sinos, relógios e alto-falantes, que contarão com equipamentos localizados no interior da igreja, gerando facilidade de uso, por meio da automação dos serviços, e maior vida útil. A cobertura recebeu novo acesso e nova cruz, com o objetivo ampliar e desobstruir o espaço de circulação, antes ocupado por equipamentos em desuso e sistema de ancoragem da cruz antiga”, ressalta da Luz, acrescentando que esta mudança permitirá realizar visitas guiadas, oportunizando aos moradores e turistas conhecer o local e contemplar, do alto, a cidade de Flores da Cunha.
O arquiteto também destaca que o térreo da edificação foi reformado e contará com rampa e escada para acessibilidade universal. Além disso, ele revela as principais mudanças em relação à iluminação, que poderá ser programada conforme os eventos da paróquia, caracterizando e identificando datas importantes.
“O projeto de restauro e requalificação do Campanário de Flores da Cunha tem o intuito de valorizar e integrar o patrimônio cultural às atividades realizadas pela comunidade. O colorido da iluminação cênica enaltecerá o monumento e aproximará ainda mais as pessoas deste grande ícone que qualifica a paisagem central do município. A instalação de equipamentos contemporâneos para os sistemas elétricos e de iluminação deixará o Campanário ainda mais imponente”, enfatiza a secretária de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente, Rosiane Machado Pradella. 
Mas o projeto vai muito além das intervenções de conservação e qualificação: “Ele também previu uma exposição, no térreo, duas Oficinas de Fotografia e a publicação do livro A História de um Gigante, com o objetivo de valorizar e fomentar ações de salvaguarda deste exemplar material único da forte religiosidade da cultura da imigração italiana no Sul do Brasil e patrimônio cultural de Flores da Cunha”, evidencia a gestora cultural, Cristina Schneider.
Cristina também adianta que as pessoas poderão subir no alto do Campanário, mas que as visitas serão feitas sob agendamento: “Aí não fica totalmente aberto, até porque tem escada, tem questão de segurança, não pode a pessoa acessar, simplesmente, sem ter alguém acompanhando. Então vai ser feita toda uma sistemática de agendamento para isso. Mas as pessoas vão poder subir, sim, porque ele vai estar preparado para isso”, reforça. 
A inauguração do projeto de restauro e requalificação do Campanário ocorrerá no próximo sábado, dia 11, após a missa na Igreja Matriz, no Largo do Campanário, às 20h. A solenidade, gratuita e aberta ao público, contará com a presença de representantes da Cultura do Estado, além das autoridades municipais, empresas patrocinadoras e equipe do projeto. O evento também terá apresentação do pianista Rodrigo Soltton. “Todo mundo vai ouvir e ver, pela primeira vez, tocar o sino e acender as luzes. Depois as pessoas vão poder visitar a exposição, no térreo, que vai contar a história do campanário. Haverá a distribuição do livro A História de um Gigante e as pessoas também poderão conhecer a exposição com as fotografias Paisagens Históricas, resultado das Oficinas de Educação Patrimonial realizadas em setembro de 2022, dentro do Salão Paroquial; local onde também será servido o menarosto, feito especialmente para a ocasião”, frisa a gestora cultural. 
Os ingressos para saborear o prato típico do município, após a inauguração do Campanário, às 21h30min, podem ser obtidos com a Secretaria Paroquial ou pelo telefone/WhatsApp (54) 9.9928.2411, com Renata. O valor é R$ 95 para adultos e crianças de 7 a 11 anos pagam R$ 55.
O projeto de restauro e requalificação do Campanário de Flores da Cunha teve custo total de R$ 2.020.026,74 sendo deste R$ 331.429,10 receita originária da prefeitura e R$ 1.688.597,64 valor financiado pelo Sistema LIC-RS. As obras foram promovidas pela  Associação de Amigos do Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, com apoio da prefeitura municipal de Flores da Cunha e da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, e tem como patrocinadores: Móveis Florense, Hidrover e Mineração Florense. A iniciativa é financiada pelo Pró Cultura RS, Secretaria da Cultura e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).

Um novo capítulo na história 
“O Campanário é um dos mais bonitos da região italiana, ele representa a fé, o trabalho e a união de um povo. Ele é, sem dúvida, o retrato da nossa gente e da nossa história”, declara a presidente da Associação de Amigos do Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, proponente do projeto, Lorete Maria Calza Paludo. 
Como representante da entidade ela revela que todos ganharão com essa entrega, afinal, o Campanário já faz parte da nossa vida e percebemos que ele faz muita falta. “Ele é o elo entre o passado, o presente e o futuro. É difícil expressar em palavras como está sendo tornar este sonho realidade. É necessário ter um sentimento de afeto muito grande por nosso gigante. É olhar para ele e sentir-se parte dele. É imaginar que Flores da Cunha não seria tão bela se ele não existisse. E agora, de roupagem nova, restaurado e iluminado, estaremos perpetuando-o, pois além do valor estético e religioso, ele conserva em si a história de nosso município e de nossos antepassados”, emociona-se Lorete, acrescentando que vida longa ao campanário é sinônimo de que nossa história continuará viva, ultrapassando gerações.  
“Quando fomos convidados pelo poder público e paróquia para assumir esse papel, foi uma mistura de sentimentos: ficamos apreensivos pela grande responsabilidade mas, ao mesmo tempo, orgulhosos por ‘fazer parte’ e, não menos importante, ser a preservação do nosso patrimônio, tanto material quanto imaterial, um dos principais objetivos da Associação de Amigos do Museu, porque entendemos que perdemos muito cada vez que nosso patrimônio é demolido, descaracterizado ou mutilado. É como se uma página de nossa história fosse apagada”, reflete Lorete, que agora vê novas páginas sendo escritas na cultura de nosso povo e que acabarão por movimentar, também, o turismo, afinal, nosso gigante também é um dos principais pontos turísticos do município.
Lorete também ajudou, ao lado de Gissely Lovatto Vailatti e Vânia Tonietto Brugalli, na organização do livro: A História de um Gigante, que será lançado no dia da inauguração. De acordo com a historiadora, Gissely, a pesquisa e a produção textual para a obra foram realizadas entre os meses de março e agosto de 2022. “Inventariar a história do Campanário com o propósito de comprovar a importância de seu reconhecimento como patrimônio cultural do município, contextualizando o lugar onde está inserido e historicizando a vida e as obras de seu idealizador, Frei Eugênio Brugalli”, contextualiza a historiadora, acerca dos principais objetivos da publicação.  
“As imagens utilizadas foram coletadas especialmente no Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, Arquivo Histórico João Spadari Adami, Museu dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul, Secretaria da Cúria Provincial dos Freis Capuchinhos e Paróquia Nossa Senhora de Lourdes de Flores da Cunha. A imprensa escrita, especialmente os jornais Correio Riograndense, O Florense e Pioneiro também foram essenciais, tanto para o referencial das imagens, quanto para a precisão dos acontecimentos. No transcorrer da pesquisa algumas pessoas ofertaram imagens para a ilustração. Houve ainda quem se dispôs a contribuir com lembranças”, revela Gissely.
“Para nós, foi uma honra escrever sobre um dos símbolos do município, um símbolo que salta aos nossos olhos, seja fisicamente, seja por seu carrilhão musical, pelas divulgações de notas ou informações, pela pontualidade das horas, por ser ponto de referência ou mirante. Mas, sobretudo, por escrevermos uma história construída com o envolvimento comunitário, o que se transformou em um desafio ímpar”, conclui a historiadora, emocionada. 

 - Karine Bergozza  - Karine Bergozza  - Karine Bergozza
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