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Uma comunidade cercada pelo medo

Isolado de centros urbanos e com diversas rotas de fuga, distrito de Mato Perso vem recebendo maior efetivo da Brigada Militar após consecutivos assaltos

Nem sempre interior é sinônimo de tranquilidade e os moradores do distrito florense de Mato Perso que o digam. Nos últimos meses a comunidade teve assaltos onde as famílias se tornaram reféns de criminosos que levaram quantias em dinheiro, eletrônicos, armas, automóveis e, em um dos casos, que aconteceu em Monte Bérico, na divisa do distrito com Farroupilha, também a vida do empresário florense Arquimedes Pandolfi.
A verdade é que esses criminosos surrupiaram também a tranquilidade de uma comunidade que, pela sua localização geográfica, fica afastada de um policiamento mais eficaz e ainda possui inúmeras rotas de fuga. De acordo com o comandante da 2ª Companhia da Brigada Militar (BM) de Flores da Cunha, capitão Daniel Tonatto, apesar da falta de efetivo enfrentada pela BM, o distrito de Mato Perso recebe policiamento que acontece de forma esporádica durante o dia e à noite. “Na localidade o policiamento é realizado na forma ostensiva, com visitas às residências e orientações de segurança aos moradores”, adianta Tonatto.
Dicas de prevenção estão sendo oferecidas às famílias como, por exemplo, não reagir a roubos. “Esses cuidados são fundamentais para melhorar a segurança das famílias e propriedades. Se tiverem pessoas estranhas usando o pretexto de solicitar ajuda junto às residências, por exemplo, a orientação é ter cautela ao abrir a porta e, em qualquer suspeita fundada, ligar para o 190. E se acontecer um roubo, nunca reagir”, lista o oficial.
De acordo com o subcomandante do 36º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Juliano Amaral, a ideia desses patrulhamentos diários é “tentar reestabelecer a sensação de segurança” no distrito. “Também estamos à disposição para possíveis encontros que a comunidade queira fazer tratando-se de segurança. Nossos policiais buscam o contato com a comunidade, o comércio, e assim por diante”, complementa.

Retorno do policiamento comunitário

O Jornal O Florense conversou com algumas famílias que, nos últimos meses, tiveram suas casas invadidas por criminosos. Por medo, nenhuma delas quis se identificar. É unânime entre as famílias que há mais rondas no distrito, mas uma demanda também veio de forma espontânea de todas elas: o retorno de um policiamento local. Há praticamente dois anos o policial que morava em Mato Perso deixou a localidade. “Vemos que a rondas estão mais frequentes nos últimos tempos, mas temos consciência de que esta é uma situação temporária, pois estamos afastados tanto de Flores como de Farroupilha e o deslocamento até aqui é complicado. A volta do policiamento comunitário seria o nosso pedido, pois víamos que quando tínhamos um policial aqui essas 'coisas' não aconteciam com tanta frequência”, conta uma moradora, que complementa que na sua residência o roubo foi planejado.

"Eles tinham muitas informações sobre a nossa família, não foi uma oportunidade que eles viram, foi algo muito bem planejado. Entendemos que a situação não é fácil também para as polícias, pois a estrutura está deficitária e ainda assim percebemos o esforço que a Brigada vem fazendo, mas sabemos que não é definitivo. Infelizmente ser assaltado hoje está normal, e nós estamos sem saber o que fazer”, lamenta a moradora.

Em outra família, os criminosos chegaram pedindo informações. “Eles queriam saber como chegar a Nova Milano, em Farroupilha. Quando eu saí de casa para explicar eles saltaram do carro e disseram que era um assalto. Me prenderam e jogaram no chão e depois nos ameaçaram com armas. Reviraram a casa em busca de dinheiro e levaram também alguns eletrodomésticos. Depois disso, nós instalamos uma cerca na casa, mas uma Brigada aqui em Mato Perso seria muito bom”, opina a vítima. Em um terceiro roubo, a casa da família foi invadida por oito assaltantes. “Ficamos com a sensação de insegurança e para nós parece que nada muda. Algumas famílias estão pagando por empresas particulares de segurança, mas ainda assim uma casa é muito distante da outra, precisaríamos de um policiamento local. Em muitos casos não adianta ter câmeras e tudo isso, os roubos acontecem da mesma forma e nos sentimos de mãos atadas sempre. Aqui em casa, além de levarem objetos, quebraram móveis e deixaram um rastro de destruição. Não sabemos nem o que pensar, porque parece que não temos amparo e tão pouco direitos”, lamenta outro morador.
O presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Mato Perso, Guerino Basso, adianta que a associação não tem nenhum projeto que leve em conta a segurança do distrito, mas diz que há diálogo entre as famílias e cada uma está tendo um cuidado maior junto às propriedades.

“Infelizmente não é uma situação apenas de Mato Perso, mas de todos os locais. Hoje o produtor tem bastante venda, movimenta valores e isso acaba atraindo essas pessoas com más intenções. As famílias estão tomando um cuidado maior e estão assustadas com os últimos acontecimentos, mas é um medo que vemos em todos os lugares, hoje não se tem mais segurança em nenhum lugar”, pondera.

Basso lembra que há praticamente dois anos havia um policial que morava na localidade. “Mas hoje entendemos as dificuldades de se colocar um policiamento local com a falta de efetivo da Brigada Militar. Vemos rondas diárias na localidade, tanto vindas de Farroupilha quanto de Flores, o que acaba inibindo de alguma forma a ação dos assaltantes”, aposta Basso. O capitão Daniel Tonatto adianta que a implantação do policiamento comunitário residente depende de vários requisitos. “Vinda de mais efetivo para a cidade para atuar nessa condição, mais viaturas, uma moradia funcional em bom estado, além da assinatura de um convênio são alguns desses requisitos. Infelizmente não é tão simples”, adianta o oficial. Nessa modalidade de convênio, o policial reside na localidade e conta com uma viatura disponível 24h.
Existe ainda o policiamento comunitário de núcleo, onde é assinado um convênio onde o Estado fornece os policiais, e o município ou interessado disponibiliza a moradia e outras estruturas. O policial trabalha e reside somente naquele núcleo. “Hoje não temos nenhuma modalidade de policiamento comunitário em Flores, a não ser o de proximidade, que é aquele feito no comércio, nas residências, durante as visitas e assim por diante”, complementa Tonatto.
O terminal eletrônico do Banrisul, que antes ficava junto à subprefeitura, foi retirado após um arrombamento em julho de 2018. “Agora precisamos nos deslocar para Flores ou Farroupilha para fazer qualquer serviço bancário. Com a insegurança, a comunidade acaba perdendo inclusive em serviços”, lamenta uma servidora da prefeitura.

Dicas de segurança

Confira algumas orientações divulgadas pelas Brigada Militar:

– Em caso de assalto, não reaja;
– Assim que os bandidos deixarem o local, avise a Brigada Militar pelo 190 o mais rápido possível, transmitindo o ocorrido e as características do(s) assaltante(s);
– Ao se deparar com sua residência arrombada, não entre, ligue para a Brigada Militar, e aguarde a chegada de uma viatura policial;
– Quando chegar ou sair de casa, fique atento, pois essas são as ocasiões mais propícias para roubos e sequestros;
– Procure conhecer bem seus vizinhos, onde trabalham, telefones, hábitos;
– Não abra a porta antes de identificar quem está solicitando acesso;
– Não aceite a entrada de técnicos não solicitados e, ao receber prestadores de serviços, identifique-os;
– Oriente familiares e funcionários para que não comentem com estranhos sobre os bens que a família possui e sobre os hábitos dos integrantes.

Fonte: Brigada Militar.
 

Retorno do policiamento comunitário. - Brigada Militar/Divulgação
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