Política

A eleição mais indefinida da história do país

Daqui a seis meses os brasileiros vão às urnas para eleger governadores, deputados federais e estaduais, senadores e presidente da República. Mas onde estão os candidatos?

Imprevisibilidade. Essa parece ser a palavra que, por enquanto, traduz as eleições de 2018. Neste sábado estaremos a exatos seis meses do pleito que terá primeiro turno no dia 7 de outubro – caso ocorra, o segundo turno será no dia 28 do mesmo mês –, e quantos e quais serão os candidatos à presidência? Por que as coligações estão em compasso de espera? Qual a influência das novas regras eleitorais, sem financiamento empresarial e com tempo reduzido de campanha e horário eleitoral? Que discurso a sociedade quer ouvir? O que os postulantes têm a oferecer?

Para o cientista político e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) João Ignacio Pires Lucas, depois do processo da redemocratização do Brasil, esta é a eleição mais indefinida que o país já viveu. “O ponto imprevisível marca essas eleições, muito em vista desses acontecimentos, seja pelo processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a elaboração de outro governo; seja pelos episódios de escândalos e, como envolve praticamente todos os partidos, é difícil ter uma previsão de qual será o comportamento do eleitor. A variável de votos brancos e nulos, ou seja, das abstenções, deve crescer a exemplo das eleições municipais anteriores”, avalia.

Uma pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada neste mês, aponta que 44% dos eleitores se disseram ‘pessimistas’ com a eleição presidencial deste ano. Vinte por cento dos entrevistados afirmaram estar ‘otimistas’ com o pleito e outros 22% disseram não estar nem otimistas nem pessimistas. Entre aqueles que se disseram pessimistas com a eleição, 30% apontaram, de forma espontânea, a corrupção como principal motivo. O levantamento ouviu 2 mil pessoas em 127 municípios.

A questão corrupção vem acompanhada de certa repulsa do eleitor por aquele político considerado mais tradicional. Contudo, para Pires, a expectativa é que as reeleições predominem. “No Congresso o percentual de renovação gira em torno dos 40%. Acredito que nestas eleições isso se mantenha, ficando abaixo do patamar que se tinha expectativa. Isso porque nomes conhecidos têm vantagens frente aos novatos, seja pelo histórico de trazer emendas e recursos para a região, ou mesmo pelo cenário bastante complexo que acaba pesando no fato de votar em algo novo e talvez inexperiente. Agora as pessoas estão mais corajosas e audaciosas, mas com a proximidade das eleições isso tende a diminuir”, acredita o professor.

Financiamento das campanhas

Assim como a imprevisibilidade, o cientista político cita outras características do pleito deste ano, como a fragmentação dos votos pelo grande número de partidos políticos, o que pode, com as abstenções, alterar o quociente eleitoral e serem necessários menos votos para que um candidato seja eleito. Além disso, a criação de um fundo eleitoral com dinheiro público e limites impostos aos gastos para campanhas de candidatos é um fator que traz incertezas. “Sem a possibilidade de investimento por parte de empresas, os próprios candidatos e simpatizantes terão de arrecadar valores para as campanhas. A repartição deste fundo dentro dos partidos é que não sabemos como irá funcionar. A tendência é que sejam privilegiados aqueles candidatos que buscam a reeleição, além dos que vêm das Capitais. Candidatos do interior terão mais dificuldades em financiar suas campanhas e, bem ou mal, quanto mais se gasta mais votos se tem, então isso acabará influenciando diretamente nos resultados”, aponta o professor.

 

Alguns números

  • Flores da Cunha tem 24.674 eleitores – são 8,3 milhões no Rio Grande do Sul e 144 milhões no Brasil.
  • Segundo pesquisa do Ibope, daqueles eleitores que estão otimistas com as eleições, 32% apontaram para a possibilidade de mudança e renovação como motivo. Outros 19% citaram a esperança no voto ou na participação popular.
  • 84% dos eleitores disseram concordar totalmente ou em parte com a necessidade de estudar as propostas para decidir em quem votar. Apenas 14% afirmaram não concordar com a necessidade.
  • 72% dos entrevistados disseram que votam nos candidatos que gostam, independentemente do partido em que eles estejam.
  • Outro ponto abordado na pesquisa diz respeito ao que os entrevistados consideram características importantes para um candidato à presidência. Para 87% deles, a principal delas é ser honesto e não mentir na campanha.
  • 84% dos entrevistados apontam como característica importante nunca ter se envolvido em qualquer esquema corrupção. 82% disseram que o candidato precisa transmitir confiança e 78% apontaram a importância de o candidato ter pulso firme e ser decidido.

 

Candidatos locais

Encerra neste sábado (veja calendário abaixo) o prazo para filiação partidária daqueles que pretendem concorrer aos cargos eletivos neste pleito. Em Flores da Cunha, as possibilidades de candidatos locais à Assembleia Legislativa gaúcha ainda é uma incógnita. Pelo menos quatro partidos não descartam a ideia. Confira:

– Pelo PP, Giovana Ulian adianta que estão sendo “sondados alguns nomes” florenses. “Contudo, estou envolvida com os Progressistas da Serra, que abrange 33 municípios, e gostaríamos de eleger dois candidatos no Estado, mas infelizmente não temos nomes unânimes, ou seja, ainda estamos sem respostas”, adianta.

– O PDT descarta nomes da cidade disputando o pleito pelo partido. “O PDT tem alguns nomes já consolidados como Vinicius Ribeiro e Alceu Barbosa Velho e que serão os representantes da região”, diz o presidente Domingos Dambrós.

– O PSB não descarta a possibilidade de um nome florense estar entre os candidatos da sigla. “Estamos realizando encontros regionais que devem se encerrar neste final de semana. Se a expectativa de que Joaquim Barbosa se filie ao PSB se concretize, e ele seja nosso candidato à presidência, isso mudará toda a composição do partido”, explica o presidente da sigla e ex-prefeito Ernani Heberle.

– O recente Solidariedade tem um pré-candidato, o florense Leandro Piazza. “Se essa candidatura é viável ou não ainda estamos em tratativas. Existe ainda a expectativa de que o partido apoie Neri O Carteiro, que é vereador em Caxias do Sul”, cita o presidente Saule Mioranzza.

– O PMDB também tem em aberta a possibilidade de ter um candidato local. O atual presidente da Câmara dos Vereadores, Moacir Ascari, o Fera, é um pré-candidato da sigla. O prefeito Lídio Scortegagna já recebeu convites de lideranças estaduais, mas sempre descartou a possibilidade. “Estamos em construção, a definição vai demorar. Temos a vaga e queremos ela”, resume o presidente Everton Scarmin.

 

Opiniões

“A realidade atual das eleições é bem complicada. Não temos nomes de pré-candidatos e isso retrata uma política desorganizada. Enquanto em outros países os candidatos iniciam uma caminhada um ano antes, no Brasil a seis meses da votação não sabemos quem serão os candidatos. Contudo, pior do que não conhecermos nomes, é não termos um projeto de governo. Se rotulou que políticos são ruins e isso torna o cenário difícil para todos. Em minha opinião, a mudança está acontecendo, a economia está evoluindo e já temos uma realidade diferente, embora o reflexo nos municípios ainda seja bastante grande, principalmente em questão de arrecadação. Mas existe uma evolução, a economia está movimentando as empresas, o comércio e a própria sociedade. Uma pena que agora se tenha todo esse dilema que causa uma instabilidade e não deixa ninguém seguro.” Lídio Scortegagna (PMDB), prefeito de Flores da Cunha.

“O eleitor precisa fazer uma análise daqueles candidatos que têm uma trajetória sem manchas e que têm um olhar na nossa região, nos auxiliando com verbas. Muitos políticos estão fora da corrupção e estão trabalhando, são esses que o povo precisa se informar e valorizar. Para a presidência da República ainda temos um cenário bastante fechado e que pode mudar constantemente. Acredito que temos opções no meio público e teremos bons nomes, apesar da abstenção, que penso que será alta pela questão corrupção. Temos que ter bastante cuidado com o novo, onde falta experiência e equilíbrio, além de observar não somente o nome do candidato, mas se o seu partido terá estrutura com capacidade administrativa. Um governo se faz de pessoas, e partidos que têm pessoas capacitadas têm mais chances de formar um governo de sucesso.” Ronaldo Boniatti (PSDB), prefeito de Nova Pádua.

“Com o cenário de mudanças, muitos eleitores estão focados na renovação, seja para deputados ou governadores e presidente. Sempre defendi aqueles candidatos que já auxiliam o município, tanto na Câmara dos Deputados como na Assembleia, e não aqueles que surgem somente nas vésperas da eleição para pedir votos. No Estado, acredito que o atual governo tem a real condição para tocar o Rio Grande, tanto políticas como administrativas, com todo um trabalho de reforma estrutural que vem sendo feita. Eu já tenho meus candidatos definidos.” Moacir Ascari (PMDB), presidente da Câmara de Vereadores de Flores da Cunha.

“O Brasil passa por uma difícil etapa em sua história política. Os escândalos se multiplicam deixando uma lista diminuta de pessoas confiáveis no desempenho de sua função pública. A economia brasileira vai mal e de que forma podemos nos preparar para enfrentar e vencer o desafio de levar o país de volta aos rumos do crescimento? Isso passa pelo governo. É difícil prever quando haverá uma nova união das principais forças econômicas, judiciárias, políticas, midiáticas e populares para o bem do país. Mas assim como no futebol, sabemos que o Brasil é, sem dúvida, o país do imprevisível. E curiosamente essa incerteza é a nossa grande esperança.” Léo Sonda (PMDB), presidente da Câmara de Vereadores de Nova Pádua.

 

Calendário eleitoral

– Filiação partidária: quem pretende concorrer aos cargos eletivos neste pleito deve se filiar a um partido político até sábado, dia 7 de abril, ou seja, seis meses antes da data das eleições. O mesmo prazo é dado para obtenção junto à Justiça Eleitoral do registro dos estatutos dos partidos políticos que pretendem entrar na disputa.

– Retirada e transferência de título: 9 de maio é o último dia para o eleitor que pretende votar requerer o Título, alterar seus dados cadastrais ou fazer a transferência do domicílio eleitoral. Também é o prazo final para o eleitor com deficiência ou mobilidade reduzida solicitar sua transferência para seção com acessibilidade e, ainda, para que presos provisórios e adolescentes internados possam regularizar a situação eleitoral.

– Propaganda intrapartidária: os políticos com vistas à indicação de seu nome pelo partido poderão fazer propaganda intrapartidária a partir do dia 5 de julho, mas está proibido o uso de rádio, televisão ou outdoor para isso.

– Agentes públicos: três meses antes das eleições, a partir de 7 de julho, os agentes públicos ficam proibidos de praticar várias condutas, entre as quais: nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens, ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, remover, transferir ou exonerar servidor público, ressalvados os casos permitidos. Ainda são vedadas, a partir dessa data, a realização de inaugurações e a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos.

– Convenções partidárias: as convenções para a escolha dos candidatos a presidente e vice-presidente da República, governador e vice-governador, senador e respectivos suplentes, deputado federal, deputado estadual ou distrital deverão ocorrer entre os dias 20 de julho e 5 de agosto.

– Registro de candidatura: o último dia para os partidos políticos e as coligações apresentarem junto à Justiça Eleitoral o requerimento de registro de candidatos é 15 de agosto.

– Propaganda eleitoral: no dia 16 de agosto passa a ser permitida a realização de propaganda eleitoral, como comícios, carreatas, distribuição de material gráfico e propaganda na Internet (desde que não paga), entre outras formas.

– Horário eleitoral: a propaganda eleitoral no rádio e na televisão terá início em 31 de agosto (37 dias antes das eleições) e término no dia 4 de outubro. O período foi reduzido de 45 para 35 dias.

– Eleições: o pleito de 2018 ocorrerá no dia 7 de outubro, em primeiro turno, e no dia 28 de outubro nos casos de segundo turno. Os eleitores vão eleger presidente da República, governadores dos Estados, dois terços do Senado Federal, deputados federais e deputados estaduais ou distritais.

 

Fala, povo

Pelas ruas de Flores da Cunha o sentimento não é diferente dos números apontados pelo Ibope. A maioria dos entrevistados pela equipe do Jornal O Florense na tarde da última quarta-feira, dia 4, está pessimista quanto às eleições de 2018. Confira as opiniões:

“O certo seria não votarmos em ninguém. Com todos esses escândalos de corrupção, não vejo que com as eleições alguma coisa irá melhorar, muito pelo contrário. Enquanto nós pagamos impostos eles roubam e, no final, ainda são reeleitos. E não digo de partidos específicos, mas especialmente de pessoas corruptas.” Ilovir Cavagnolli, 77 anos, agricultor.

“Acredito que cada um precisa fazer a sua parte. A conscientização se inicia em nós, eleitores, buscando o melhor candidato para votar, até aqueles que serão eleitos para representar o povo. Precisamos ter uma consciência das nossas ações para, desse modo, podermos cobrar dos nossos governantes.” Francisca Alves Novelli, 55 anos, dona de casa.

“Eu estou otimista. Acredito que com as eleições teremos pessoas novas eleitas, com a possibilidade de colocar em prática novos e bons projetos.” Leila Maria Frizon, 37 anos, cuidadora.

“Apoio uma intervenção militar no país. Não temos candidatos e da maneira como alguns processos estão sendo conduzidos não tem como ficar otimista quanto às eleições. Talvez esses casos de roubos existam há mais tempo, mas nos últimos anos isso vem se escancarando de uma forma triste. Não existe uma solução que possamos enxergar.” Paulo Roberto Ganzer, 55 anos, marceneiro.

“Com tudo o que vemos de corrupção e casos de roubos em Brasília, eu gostaria muito que melhorasse com as eleições, mas é difícil ser otimista com esse cenário. Precisamos buscar escolher bem nossos candidatos.” Catiane Bernardi, 25 anos, marinheira.

“Não tem como acreditarmos em eleições com um cenário assim. Acredito que termos um pleito não vai mudar a situação do país, até porque isso não depende de um partido ou de uma pessoa, mas sim de todo um sistema criado pela corrupção e que está aí.” Alencar Negri, 27 anos, agente de viagens.

 

 

 - Foto de Antonio Coloda com manipulação de Chariel Rezende Alencar Negri, 27 anos, agente de viagens. - Fabiano Provin/OF Catiane Bernardi, 25 anos, marinheira. - Fabiano Provin/OF Francisca Alves Novelli, 55 anos, dona de casa. - Fabiano Provin/OF Ilovir Cavagnolli, 77 anos, agricultor. - Fabiano Provin/OF Leila Maria Frizon, 37 anos, cuidadora. - Fabiano Provin/OF Paulo Roberto Ganzer, 55 anos, marceneiro. - Fabiano Provin/OF
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