Como está a saúde do seu coração?
Mortes em decorrência de infarto chocam florenses e Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta que, apenas neste ano, cerca de 240 mil pessoas perderam a vida para doenças cardiovasculares e de circulação
Na última sexta-feira, dia 5, lembramos o Dia Nacional da Saúde no Brasil. A data, instituída pela Lei nº 5.352/1967, tem o objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância de manter um estilo de vida saudável, com boa alimentação, ingestão de água, prática de atividades físicas, lazer e descanso. Dia 5 de agosto foi escolhido por ser o aniversário do médico e sanitarista Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917). Uma homenagem a um importante personagem na história do combate e erradicação das epidemias brasileiras.
Devido às últimas mortes em decorrência de infarto, registradas em Flores da Cunha, e que chocaram muitos munícipes, o Jornal O Florense quer valorizar e incentivar o bem-estar, para que possamos cuidar melhor do nosso coração, afinal, as afecções neste órgão, as doenças cardiovasculares e de circulação, representam a principal causa de mortes no Brasil.
Conforme dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), são mais de 1.100 falecimentos por dia, cerca de 46 por hora e um a cada 90 segundos. As doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes em comparação com as de todos os tipos de câncer juntos, de duas a três vezes mais que todas as causas externas (acidentes e violência), três vezes mais que as doenças respiratórias e 6,5 mais que todas as infecções, incluindo a AIDS. A SBC estima que, até o final deste ano, quase 400 mil brasileiros terão ido a óbito por doenças do coração e da circulação e, até a sexta-feira, dia 5, o Cardiomêtro apontava que cerca de 240 mil pessoas haviam perdido a vida para doenças cardiovasculares no Brasil, apenas neste ano.
Diante disso e tendo em vista que o alerta, a prevenção, o tratamento adequado dos fatores de risco e manter um estilo de vida saudável podem reverter ou amenizar esse quadro, conversamos com o médico cardiologista, Ezequiel Toscan, que esclarecerá algumas dúvidas. Acompanhe a entrevista completa abaixo:
O Florense: De forma breve, como se caracteriza um infarto?
Dr. Ezequiel Toscan: O infarto se caracteriza pela interrupção de circulação de uma artéria que nutre o músculo cardíaco de oxigênio, chamada de artéria coronária, e o que ocorre são as manifestações decorrentes da falta de oxigênio, que acontece nesse músculo cardíaco.
OF: Existem vários tipos de infarto? Quais as diferenças e semelhanças entre eles?
Toscan: Infarto é basicamente sempre o mesmo, mas, vão existir variações na forma como ele se manifesta, dependendo de vários fatores, da localização, por exemplo, do músculo cardíaco que está sendo acometido.
OF: Quais costumam ser os principais sintomas?
Toscan: O infarto pode se manifestar de uma forma que chamamos de típica, que é aquela dor no peito, forte, em aperto, que pode irradiar para o braço esquerdo. De uma maneira que a gente chama de atípica, com dores que podem, às vezes, se confundir com outros problemas – como dores localizadas na região do estômago, do pescoço, nos braços e nas costas. E também pode se manifestar de uma forma extremamente grave, já inicialmente com um quadro de parada cardíaca.
É importante salientar, e as pessoas confundem muito, um quadro de infarto com um quadro de parada cardiorrespiratória. A parada cardiorrespiratória pode ser uma manifestação, ou até, uma evolução de um quadro de infarto, mas não é a única causa.
OF: Quais costumam ser os fatores de risco das pessoas que sofrem um infarto?
Toscan: Os fatores de risco para o infarto são os já conhecidos para o surgimento de doenças cardiovasculares, principalmente hipertensão, diabetes, cigarro, colesterol alto e outros que todos já estão acostumados como estresse, sedentarismo e obesidade. Além de fatores hereditários, tendência familiar e a própria idade.
OF: Qual é a melhor forma de prevenir?
Toscan: A forma de prevenir é a pessoa tentando ter, no seu dia a dia, hábitos saudáveis, como: controle do peso, manter uma boa alimentação, procurar praticar uma atividade física regularmente, fazer os seus checkups (exames) de rotina para tentar identificar algum desses fatores de risco, para que possam ser corrigidos e, com isso, diminuir a chance de ter um evento cardiovascular, dentre eles o infarto.
OF: Ao presenciar uma pessoa passando mal, com sintomas de infarto, como podemos auxiliar?
Toscan: Na suspeita de um quadro de infarto, quando a pessoa está, principalmente, com dor no peito, ela deve sempre procurar um atendimento no serviço de emergência, para identificar se essa dor pode representar algum risco de vida. Na ocorrência de uma parada cardíaca, ou de uma parada cardiorrespiratória, o atendimento precisa ser muito mais imediato e, geralmente, requer o mínimo de treinamento da pessoa que está fazendo isso, como: identificar a ausência de pulso, a ausência de movimentos respiratórios, deitar a pessoa em uma superfície dura, de barriga para cima, imediatamente ligar para o Samu, 192, e também, o mais breve possível, começar com massagem cardíaca de forma eficaz.
É por isso que se defende que as crianças já sejam instruídas nas escolas a reconhecer e fazer esse tipo de atendimento básico. Hoje em dia, também, existem muitos vídeos disponíveis na internet ensinando como fazer isso de uma forma adequada, mesmo no ambiente domiciliar, no caso de uma emergência.
OF: Nos últimos dias surgiram questionamentos sobre a vacina contra a Covid-19. Existe algum indício de que ela possa estar relacionada com casos de infarto? Por que?
Toscan: Não existe, por enquanto, evidência de relação de aumento de casos de doenças cardiovasculares por causa da vacina ou por causa da doença Covid. O que acontece, provavelmente, é que as doenças cardiovasculares não deixaram de acontecer na pandemia, então as pessoas continuaram tendo infarto, acidentes vasculares cerebrais, mesmo durante esse período. Isso se soma ao fato de que, durante a pandemia, as pessoas ficaram mais sedentárias, ficaram mais em casa, reduziram a quantidade de exercício, aumentaram de peso, consumiram mais álcool, comida mais gordurosa, fizeram menos checkup, menos visitas aos médicos, e isso, possivelmente também contribuiu para o aumento nos casos de doenças cardiovasculares.
OF: Os mais antigos costumavam dizer que nas épocas de queda das folhas e brotação, aconteciam os infartos. As mudanças bruscas de temperatura e clima podem ser associadas à incidência de infartos? Por que?
Toscan: Quanto à questão clima, sim, a gente sabe que o frio tem um efeito direto no aumento da pressão e isso acaba contribuindo para o aumento de casos e eventos cardiovasculares, principalmente no início das estações frias, nas quais as pessoas se protegem menos.
OF: Na semana passada foram registrados dois óbitos em decorrência de infarto, ambas as pessoas na casa dos 50 anos. O fator idade pode estar relacionado? Quais idades exigem mais cautela e por quê?
Toscan: Quanto ao fator idade, esse risco é progressivo. Então o homem, mais ou menos, a partir dos 35 anos, e a mulher, a partir dos 45 anos. Conforme os anos vão passando o risco cardiovascular vai aumentando em decorrência da idade, e pode se multiplicar, dependendo da associação com outros fatores de risco.
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